Karl Von Eckartshausen




Este texto foi extraído do livro "Nuvem Ante o Santuário", de K. Von Eckhartshausen,
 publicado pela Thot Livraria e Editora Teosófica, (Brasília-DF, 1990). A tradução é de A. Blacheyre, revisão de Alf Eyre e a coordenação editorial de Osvaldo Rodrigues Condé Filho, a quem agradecemos a gentileza de nos permitir esta reprodução.


Karl von Eckartshausen, nasceu na Baviera em 1752 e faleceu em Munique em 1803. Estudou Leis e Filosofia na Universidade de Ingolstadt. Considerado Rosa-Cruz e um dos maiores místicos ocidentais, estudioso de Jacob Boehme, escreveu inúmeros livros sobre Cabala, teorias e pitagóricas, Alquimia, Magia e assuntos transcendentais em geral.
           
Sua obra mais conhecida é Nuvem Ante o Santuário, uma série de cartas do mais elevado teor espiritual.

E este texto, que agora apresentamos para apreciação dos leitores de língua portuguesa, que terão a oportunidade de beber desta fonte de água da vida, que é o Nuvem Ante o Santuário, do Mestre Rosa-Cruz Eckartshausen.


PARA MEDITAR ANTES DA LEITURA DAS CARTAS
SI OCULUS TUUS FUERIT SIMPLEZ TOTUM CORPUM TUUM LUCIDUM ERIT.
(São Lucas, Cap.11, v.34)


A visão interna do homem é a razão, POTENTIA INTELLECTIVA MENS...


Se essa visão interna do homem é iluminada pela luz divina, é ela, então, o verdadeiro sol interno pelo qual todos os objetos vêm ao nosso conhecimento.

Enquanto a luz divina não houver iluminado essa visão nosso interior viverá nas trevas. A aurora de nosso interno começa quando essa luz aparece.

Esse sol da alma ilumina nosso mundo interno intelectual do mesmo modo como o sol externo ilumina o mundo.

Da mesma forma que os objetos do mundo físico vão-se tornando visíveis, aos poucos, com a chegada do sol no amanhecer, acontece também com o aparecimento do sol espiritual e os objetos espirituais do mundo espiritual ou racional vêm ao nosso conhecimento.

Assim como a luz externa nos ilumina pelo caminho de nossa peregrinação a luz interior também o faz pelo caminho da salvação.

Porém assim como a visão externa do homem está exposta a diferentes perigos, a visão interna também o está.

Essa visão interna deve conservar-se incólume, pura e inalterável; pode então elevar-se, como a visão externa, rumo ao céu; e da mesma maneira que a visão externa pode examinar o firmamento, as estrelas e o sol também a visão interna pode ver todo o céu, os anjos e o próprio Deus, SIGNATUM EST SUPER NOS LUMEN VULTUS TUI. PS. 4 OSTENDAMOMNE BONUM TIBI, Ec. 6,33.

Como é grandioso o destino que o homem tem em seu interior!

Seu espírito pode elevar-se até os anjos e as inteligências; pode aproximar-se ao trono da divindade e ver em si próprio todas as magnificências do mundo divino, espiritual e físico, AVERTE OCULUM TUUM, NE VIDEAT VANITATEM.

Retira tua alma, tua visão interna de todas as coisas que não são de Deus, fecha-as À noite de erro e do preconceito, e não abras senão ao sol do mundo espiritual.

Esse sol do mundo espiritual é Jesus Cristo, pois assim como o sol exterior, torna tudo susceptível de ser conhecido no espírito e ativo  no coração; pois a sabedoris e o amor são suas forças e a razão e a vontade do homem seus órgãos. Preenche as forças com a sabedoria e a vontade com o amor.


DESENVOLVIMENTO DAS FORÇAS HUMANAS

            Quanto mais órgãos tiver um corpo para a recepção, maiores são o desenvolvimento e a propagação de diversas influências e certamente sua existência será mais rica e perfeita pois haverá mais capacidade vital.

Porém várias forças podem dormir em nós enquanto não tivermos órgãos apropriados para elas, evitando assim que elas possam agir em nós.

O órgão é uma forma na qual uma força atua mas toda a forma consiste na direção determinada de suas partes para a fonte atuante.

Organizar-se para a ação de uma força quer dizer, simplesmente, dar às partes uma forma ou situação tal que a força possa atuar nelas... Isto significa estar organizado.

Mas da mesma maneira que, para um homem que não tem órgãos para a luz, olhos, por exemplo, a luz não existe na realidade, enquanto aqueles que têm órgãos desfrutam dela assim muitos homens não podem desfrutar de alguma coisa da qual outros podem desfrutar.

Quero dizer com isto que um homem que possui os órgãos próprios para ouvir, ver e degustar está de tal forma organizado que um outro homem que não os possui, não está, e por isso não ouve, não vê nem sente o gosto de determinadas coisas como o primeiro.

Assim, neste caso, todas as explicações seriam inúteis, pois misturaríamos sempre idéias que recebemos através do próprio órgão particular com as idéias do outro e somente poderíamos degustar ou compreender algo na medida em que tal chegasse mais perto das próprias sensações.

Como recebemos todas a nossas idéias através dos sentidos e todas as operações de nossa razão são abstrações e impressões sensíveis, existem muitas coisas sobre as quais não podemos ter qualquer ideia porque ainda não temos a sensação dessas coisas. Só aquilo para o que temos um órgão torna-se sensível para nós. Por isso, para o desenvolvimento das forças superiores não podem dar aos outros homens, que não estão organizados para tanto, qualquer ideia  ou talvez possam apenas dar alguma ideia obscura da verdade superior.

Assim todas as nossas discussões e nossos escritos servem de pouco. Os homens devem primeiro organizar-se para a Verdade.

Mesmo se escrevêssemos in-fólios sobre a luz para os cegos isso não faria com que eles a compreendessem melhor. Deve-lhes ser dado primeiramente o órgão da visão para poderem perceber a verdade.

Agora a pergunta é: Qual é o "órgão da verdade? O que é a capacidade da verdade no homem?

Respondo: É a simplicidade do coração, pois a simplicidade coloca o coração numa situação conveniente para receber com pureza o raio da razão: e este organiza o coração para a recepção da luz.