Nasceu Hypolito José
da Costa Pereira Furtado de Mendonça em 13 de agosto de 1773, na Colônia de
Sacramento, sendo seus pais Felix da Costa Furtado de Mendonça e D. Anna
Josepha Pereira.
Ainda criança, veio para a cidade do Rio de Janeiro, onde iniciou
seus estudos preparatórios, aqui mesmo concluídos, partindo em seguida para
Portugal, onde se bacharelou em filosofia e direito da Universidade de Coimbra.
O brilhantismo do seu curso acadêmico deu-lhe, apenas formado, uma
alta e importante comissão nos Estados Unidos da América do Norte, para onde
partiu em 1798 como encarregado de negócios de Portugal.
Em 1797 foi-lhe conferido brasão d’armas com as das Costas e
Pereiras.
Nesse caracter esteve em Philadelphia até setembro ou outubro de
1800.
Regressando à Lisboa em 1801, foi nomeado deputado literário da
Junta da Impressão Regia, e nesse caracter se achava quando seguiu para Londres
a tratar de negócios particulares, e juntamente encarregado de assuntos de
serviço público pelo ministro de estado D. Rodrigo de Souza Coutinho, Conde de
Linhares.
Parece que não ficou satisfeito D. Rodrigo Coutinho com o
desempenho dessa missão, pois mal Hyppolito desembarcava em Lisboa de volta de
Londres, foi preso e atirado aos cárceres da Inquisição, acusado de
franc-maçom.
Três anos gemeu em ferros o nosso desventurado patrício! Moviam-se
os seus amigos, agitava-se a Mac. para o livrá-lo . Baldado empenho! Ainda era
terrível o poder do iníquo tribunal e temiam todos um desenlace fatal, muito de
prever, à vista da perseguição que por toda a parte movia-se aos pregadores das
idéias novas dispersadas pelo Universo ao sopro da Grande Revolução.
Conseguiram afinal os seus II\ corromper os carcereiros
encarregados de sua guarda: em tenebrosa noite o nosso compatriota por entre
mil perigos consegui evadir-se.
Durante algum meses conservou-se escondido em Lisboa em casa de um
Ir\ , que baldou com argúcia todos os esforços empregados pelos esbirros do
Santo Ofício para descobri-lo; seguiu depois para o Alem-Tejo em companhia de
outro Maç. , Felippe Ferreira de Araújoe Castro, que o levou como seu criado,
conseguindo assim passar à Espanha, chegando a Gibraltar, de onde embarcou para
Londres, então como agora asilo inviolável para todos os perseguidos.
Em Londres, lutando pela vida, buscando os meios de subsistência,
manifestou-se a sua decidida vocação literária.
Fundou em 12 de Junho de 1812 a Loj. Luzitana.
Escreveu diversas obras sobre política, economia, indústrias,
gramática, memórias autobiográficas, além de muitos escritos esparsos em
diversas folhas.
A vida intelectual de Hyppolito foi notavelmente fecunda,
atendo-se às circunstâncias tão agitadas e à curta duração de sua vida (48
anos).
Onde, porém, brilha sobranceira, expande-se luminosamente, é no
Correio Braziliense, orgam dedicado a interesses políticos e literários, que
tão grande influência veio a exercer sobre o espírito de seus compatriotas.
Durou 15 anos esse periódico, que publicava-se mensalmente em
fascículos de número irregular de páginas. Cada número trazia a divisa:
"Na Quarta parte nova, os campos ara e si mais mundo heuvera,
lá chegar." (Camões, C. VII e 14)
A influência do Correio Braziliense no espírito público do Brasil
foi extraordinária.
Opiniões de escritores insuspeitos assim o atestam.
Eis o que diz o douto crítico José Veríssimo no Livro do
Centenário (1º volume):
" Na enumeração dos mais notáveis jornais brasileiros,
sobretudo daqueles que exerceram influência no espírito público do país, seria
imperdoável esquecer o Correio Braziliense, não obstante não ser aqui impresso.
O Correio Braziliense ou Armazém Literário saia à luz em Londres, em fascículos
mensais de número incerto de páginas, à moda das magazines inglesas. Durou 15
anos de 1808 a 1822, deixando de si 28 raros e preciosos volumes in 8º.
Fundou-o redigiu-o em toda a sua existência Hyppolito José da
Costa Pereira Furtado de Mendonça, brasileiro da Colônia de Sacramento, formado
em direito e filosofia em Coimbra.
Processado pelo Inquisição de Lisboa, conseguiu evadir-se,
estabelecendo-se na metrópole inglesa, onde fundou o seu jornal, que sem
embargo do seu subtítulo era mais político do que literário.
O liberalismo do Correio, o adiantado de sua opiniões fizeram com
que o governo português lhe proibisse a entrada e leitura em Portugal. Era
recomendá-lo ao Brasil, cuja independência advogava com ardor. E aqui foi lido,
estimado, admirado e muito influente.
Hyppolito da Costa, no Correio Braziliens, foi o precursor da
propaganda da abolição da escravidão no Brazil, feita pela imprensa."
O Visconde de Porto
Seguro (Varnhagen), illustrado historiador, que primeiro compreendeu ser
impossível fazer a história sem os documento originais, diz que Hyppolito foi o
primeiro defensor mais ousado da permanência da Côrte no Brasil, e por
conseqüência da emancipação do país; sustentava com ardor a transferência, já
ideada pelos Inconfidentes Mineiros, da Capital Brasileira do Rio para os
sertões de Minas, idéia essa que a nossa Constituinte Republicana tantos anos
passados fervorosamente abraçou, consignando-a no texto mesmo da Constituição:
diz Varnhagen: "não cremos que nenhum estadista concorresse mais para
preparar a formação no Brasil de um Império Constitucional do que o Ilustre
redator do Correio Braziliense."
Fundado em 1808, o Correio Braziliense chamou desde logo, pela
liberdade de opiniões em que era escrito, a atenção da Côrte e Regência de
Portugal, que determinou primeiro fazê-las combater por escrito, e neste
intento, diz, Innocencio Francisco da Silva (Dicionário biográfico, tomo 3º pg.
198), publicaram-se em Portugal algumas refutações; depois tentou fazer com
Hyppolito um ajuste (aprovado pelo Conde de Linhares) em 1810, ajuste proposto
por Domingos de Souza Coutinho, irmão do Ministro, tomando o Governo 300
assinaturas do Correio, que revenderia, com a condição expressa de que não se
ocuparia ele nem da Maçonaria, nem da Côrtes, nem de ataques de pessoas.
Fracassaram-se, porém, essas negociações, pois em 17 de Setembro
de 1811 tomou o governo de Portugal o alvitre mais expedito de proibir a
introdução e leitura do jornal de Portugal, sob as mais severas penas,
proibição essa que se repetiu em 2 de Março de 1812 e 25 de Junho de 1817.
Apesar das severas penas, nunca se tornou eficaz a proibição, como
se depreende da reiteração da medida por duas vezes.
A atitude patriótica do eminente jornalista, que pusera os seus
serviços à disposição da causa santa da independência de sua Pátria,
granjeou-lhe a amizade do Príncipe D. Pedro, mais tarde Imperador e seu Ir.·.
Em 1822, foi encarregado por ele da gestão dos negócios
brasileiros em Londres, em cujo cargo foi surpreendê-lo a morte; entregou sua
alma pura e generosa ao Supr\ Arch\ do Univ\ em Keusiugton, próximo a Londres,
aos 11 de Setembro de 1823, um ano após a realização de seu belo ideal, sua
aspiração suprema, a emancipação política do Brasil.
A compreensão nítida do ideal maçônico, fazendo-o esposar sempre a
causa do fraco contra o prepotente, inspirou-lhe a sublime idéia de advogar
pela imprensa a causa da abolição da escravatura no Brasil, instituição que lhe
julgava incompatível com a civilização das sociedades modernas.
Abriu ele assim a senda que primeiro trilhou, e que valeu depois
tantos triunfos e Bocayuva, Ruy Barbosa, Ferreira de Araújo, Ferreira de
Menezes, José do Patrocínio e tantos outros, que só em 1888 colheram os louros
da vitória.
E nas festividades de então quem se lembrou do generoso e abnegado
brasileiro, que alçará a voz, primeiro, em favor do captivo?
Mergulhou no mar do olvido aquela veneranda memória; a nós, porém
MMaç. , compete ir lá arrancá-la, trazendo-a à tona, branca, adamantina,
aureolada de deslumbrante luz.
Esse foi um verdadeiro maçom, um maçom de escol.
Ao lado de Cayrú J. Bonifácio, Gonçalves Lêdo, Alves Branco, Cunha
Barbosa e tantos outros próceres da independência do Brasil, maçons todos, deve
figurar em nosso culto a memória desse que em vida chamouse Hyppolito José da
Costa Pereira Furtado de Mendonça.
NOTA – Bibliografia –
Livro do Centenário. – Innocencio F. da Silva, Dicionário Bibliográfico. –
Correio Braziliense – Catálogo dos cimelios da Biblioteca Nacional. – Porto
Seguro, História do Brasil.