Cadeia de União
Lembro-me muito bem. Em minha Loja-Mãe, quando o velho maçom Koichi Assegawa, não havendo necessidade de frisar que era descendente de japoneses, iniciado lá pelos anos de 1947, já em idade provecta, quase cego, usando lupas para ler todo livro que lhe aparecesse pela frente, usava da palavra no período a bem da Ordem. todos os Irmãos presentes ouviam-no com uma atenção mais que especial. O Irmão tinha boa voz, com entonação perfeita, boa dicção, e raramente se traia pelo sotaque nipônico. Geralmente ultrapassava o seu tempo, mas ninguém o percebia, nem o Venerável olhava para o seu relógio. Parecia um sábio oriental nos trazendo mensagens de sabedoria e otimismo e nos enchia a alma de conhecimentos maçônicos e universais. Ele parecia ter o seu auto-conhecimento e nos dava a sensação de um iluminado. Certas ocasiões, ficava tão empolgado que até se transfigurava. Ele era um desses espécimes raros de maçons que ainda existem em muitas Lojas e que a maioria dos Irmãos não dão o valor devido a eles, às suas mensagens, à sua experiência, às suas verdades, sem atinar para o fato de que o seu saber, com o passar dos anos, torna-se profundo.
Todavia, quando, por qualquer razão, o Venerável anunciava que seria formada uma Cadeia de União, ele tentava entrar na corrente, mas ao dar as mãos aos dois Irmãos entre os quais tomaria seu lugar, uma espécie de “choque elétrico” o tirava abruptamente do círculo, tal qual uma corrente rejeitando um de seus elos. Em seguida, ele sentava-se em uma das cadeiras do Templo, supostamente prostrado, apresentava suas escusas aos demais Irmãos e permanecia quieto por alguns minutos, como que “recuperando suas forças”. Pelo menos era a impressão que dava e transmitia aos Irmãos presentes e assustados com aquele procedimento.
Ele se desculpava e explicava que era muito sensível e por esta razão acontecia aquele fenômeno.
Como sempre, mesmo que timidamente, já que estes assuntos são tabus, havendo contra eles uma verdadeira conspiração do silêncio, alguns Irmãos conjeturaram a dar as suas próprias explicações. Uns diziam, após as Sessões, que era pura alucinação; outros achavam que ele era um sensitivo e que as energias provenientes de uma Cadeia de União desencadeavam neste Irmão efeitos semelhantes a um choque elétrico.
Sabemos que a Cadeia de União foi criada na Maçonaria com a única e exclusiva finalidade para a transmissão da Palavra Semestral.
Como costuma acontecer na Ordem, onde os enxertos incorporados são comuns, com o tempo apareceram mais usos da Cadeia, tais como orações, invocações durante sua ritualística, em favor de Irmãos ou parentes de Irmãos enfermos ou falecidos; pelas pompas fúnebres, sendo que a Cadeia de União é formada até em cemitérios, ao redor do esquife, quando o Irmão falecido está para baixar ao túmulo. Também é usada quando há desavença entre dois Irmãos do Quadro, quando todos sabemos que o melhor caminho seria um Conselho de Família e nunca uma Cadeia de União.
Os Irmãos que trouxeram a Cadeia de União para a Maçonaria, tão somente com uma finalidade, não poderiam supor que, atualmente, à luz da Parapsicologia Moderna, ela poderia ter tantos desdobramentos por causa da energia psíquica que esta Cadeia pode armazenar, quando os Irmãos que a compõem de mãos dadas passam este fluxo de um para outro.
Está comprovado cientificamente que certos indivíduos sensíveis, chamados de sensitivos, dotados médiuns, etc., podem, entre outros talentos do inconsciente, ter o dom de curar enfermos. Entre os vários tipos de cura, tem o da imposição das mãos. O sensitivo toca o doente na parte afetada, ou então com as mãos à uma certa distância, apontadas para o enfermo, como que emanando uma energia estranha.
Esta energia chama-se energia psíquica. Tem vários nomes, mas a chamaremos de telergia. Ela é de origem extra-sensorial e as mãos, no caso, são o caminho ou canal pelos quais a dita energia fluirá do emissor para o receptor. O comando sempre será mental.
Ora, se tal situação ocorre e é comprovado pela Ciência, não totalmente, diga-se de passagem, está mais que claro que ao se formar uma Cadeia de União com os Irmãos usando as mãos para se unirem, alguma energia, em maior ou menor quantidade, passará de um Irmão para o outro.
A Cadeia de União, sendo uma corrente, fechada, não resta a menor dúvida que quando formada é uma bateria de energias psíquicas somadas.
Quando dirigida ou canalizada para um fim determinado, o qual geralmente é em favor de um Irmão enfermo, se este como receptor for também um sensível, ele até saberá que em tal dia, em tal hora, foi feita, em seu favor, uma corrente de bom augúrio, de pronto restabelecimento. Ressalte-se que os votos de boa saúde são sempre feitos via mental.
Este mesmo princípio ocorre nas chamadas correntes que orações de grupos adeptos de várias religiões vêm praticando cada vez mais na atualidade em favor de enfermos.
Poder-se-ia argumentar que estamos raciocinando como se todos os Irmãos que fazem parte de uma Cadeia de União sejam paranormais.
Acontece que todos nós temos esta energia psíquica. Ela é universal. Algumas pessoas têm o potencial de exteriorizá-la “visivelmente”. Os indivíduos que, por um dom do G:.A:.D:.U:. têm uma abertura maior entre o consciente e o inconsciente são os causadores dos fenômenos parapsicológicos, chamados de paranormais.
Esta telergia não depende do espaço-tempo, nem dos nossos sentidos. Ela é extrasensorial. A Ciência, sem querer sugerir abertamente, nos dá a entender que esta energia provêm de algo além do nosso conhecimento físico.
Ela provêm do nosso Espírito, ou Alma, como queiram.
A Cadeia de União, dentro da disciplina ritualística, foi criada somente para a transmissão da Palavra Semestral, mas em verdade ela é muito mais profunda. Ela se presta a muito mais que tratar da Palavra Semestral.
O tempo o dirá...
Será que o “choque elétrico” que o velho Koichi sentia era apenas alienação?
A título de relembrar os Irmãos, enfocaremos inicialmente alguns tópicos abordados em artigos anteriores. A Cadeia de União teria sua origem na Maçonaria Operativa, onde os profissionais da construção, os canteiros que eram, pedreiros talhadores de pedra, usavam uma corrente de ferro para delimitar a área de construção.
Eles fincavam em torno destas construções estacas de madeira, as quais eram inseridas em cada elo da corrente.
Na entrada desta área, era deixada uma abertura através de dois postes de madeira. A área delimitada geralmente tinha a forma retangular.
No Rito de Schroeder ou Alemão, a Cadeia de União é obrigatória no final de cada Sessão. Ela é usada nos demais ritos, menos no Rito de Emulação ou de York (Inglês), que ignora esta prática. No Rito de Schroeder, ela é feita com os Irmãos dando-se as mãos naturalmente. Nos demais ritos, os Irmãos cruzam os antebraços, o direito sobre o esquerdo, e dão-se as mãos.
Esta prática foi introduzida na Maçonaria única e exclusivamente para a transmissão da Palavra Semestral.
Entretanto, os introdutores deste procedimento maçônico não poderiam imaginar que hoje, em pleno final do século XX, a Cadeia de União, através dos enxertos ritualísticos, criasse novos usos.
Interessante notar que a criação transcendeu aos criadores. As atuais finalidades da Cadeia de União são, além da transmissão da Palavra Semestral, orações em corrente para Irmãos ou parentes enfermos, em favor das almas de Irmãos falecidos, ou quando dois Irmãos estão em desavença, e também ela é usada em Sessões fúnebres.
Parece que uma das finalidades atuais da Cadeia de União sobrepuja às demais. Não nos importa se ela, do ponto de vista de raízes da Maçonaria, seja apenas um enxerto a mais. Afinal, o Rito Escocês Antigo e Aceito, em especial aqui no Brasil, é o maior depositário de enxertos, invenções e compilações que se conhece no mundo da Maçonaria.
Vamos conceituar o nosso ponto de vista e relacioná-lo com o que ainda chamamos de paranormalidade, pois acreditamos que dentro em breve será considerado como absolutamente normal.
Os Irmãos, quando vão para as Sessões semanais de suas Lojas, durante as horas que precedem o início das mesmas, já terão a mente aberta e preparada e estarão firmes com o propósito de assistir as referidas Sessões. Entram em Loja, a qual é aberta dentro de um ritmo determinado pelo ritual, iluminação pouco intensa, e é invocado o nome de Deus. Se o condutor dos trabalhos o fizer de maneira bastante ordenada, com boa dicção, e os Irmãos estiverem entre si em boa harmonia, não resta a menor dúvida que cada Irmão entrará em um relaxamento e muitos, em ondas alpha. Cada um tornar-se-á uma pilha psíquica que se carregará de uma energia mais ou menos uniforme. Dentro de uma hora de Sessão, as mentes dos Irmãos deverão estar vibrando num mesmo cumprimento de ondas e todos voltados para uma mesma finalidade, com a mesma identidade de pensamento, mesmo que haja alguma opinião em contrário. Afinal, a Maçonaria adota a Dialética, que é a arte de dizer e contraditar para se chegar a uma verdade. E esta forma democrática que cada Irmão tem para expressar a sua maneira independe de pensar, não influi na vibração de uma Sessão maçônica.
As ondas Alpha emitidas pelo cérebro foram descobertas pelo médico alemão Hans Berger, em 1924, quando ele estudava o fenômeno da telepatia em um paciente paranormal, vibrando o cérebro neste comprimento de onda em 7 a 12 hertz por segundo.
Nesta situação, o indivíduo estará bastante relaxado, porém bastante lúcido, alerta, predominando o pensamento lógico e intelectual, quando haverá urna série de condições mentais que o colocam num estado de consciência bastante elevado, ou seja, o ideal para se produzirem fenômenos parapsicológicos.
Se no final da Sessão for realizada uma Cadeia de União, a qual é executada formando-se um círculo fechado, formar-se-á uma bateria. Adiantaríamos ainda mais, uma verdadeira usina ou central de energia psíquica, muito poderosa.
Esta energia poderá, tal qual o jato de água saído de urna torneira, ser regulada e direcionada para um determinado fim. Geralmente as Cadeias de União são feitas em intenção a algum Irmão enfermo.
Ressaltamos que, pelo conhecimento que ternos dos resultados da ação desta força, ela poderá agir mental ou fisicamente.
Se ela pode incidir sobre um enfermo, é óbvio que tendo o comando mental dos Irmãos que a estão emitindo, ela poderá ser usada também em um leque de opções bastante abrangente. Digamos que uma delas seria em prol da paz mundial, por exemplo.
Imaginem, sabendo-se que só no Brasil temos cerca de 5.000 Lojas maçônicas. Se cada Loja executar este procedimento ritualístico, no final de cada Sessão, conforme se pratica no Rito Alemão e com uma finalidade nobre, temos a absoluta certeza de que alguma coisa boa, em algum lugar, irá ocorrer.
Um estranho fenômeno ocorre todos os anos numa cidade da França, onde os praticantes da Meditação Transcendental se reúnem anualmente. Lá, são recebidos como sinal de bom agouro, porque todos os anos, durante estas reuniões, a criminalidade diminui, as pessoas ficam mais calmas e alegres e sempre algo de bom acontece.
Em Florianópolis aconteceu um fato digno de ser mencionado e que nos foi relatado por Irmãos daquela cidade. Um Irmão politraumatizado por um acidente automobilístico, na UTI, em coma profundo assistido por médicos maçons, a partir da hora em que lhe canalizaram os efeitos mentais de uma Cadeia de União, começou a recobrar os sentidos e acabou ficando curado. Simples coincidência? Atualmente freqüenta sua Loja normalmente.
Encaixaria nesta situação uma das máximas dos ocultistas: “o visível é a manifestação do invisível”. Temos Irmãos por este Brasil a fora que aceitam esta afirmação com muita convicção. Entretanto, a corrente dos maçons ditos “autênticos”, que melhor deveriam ser chamados de documentais, se opõem em idéias à corrente dos “místicos”, não aceitando estes conceitos.
No caso do Irmão em coma, seu cérebro estava em nível mental chamado Delta. Do ponto de vista elétrico, pode-se chegar de duas maneiras a este comprimento de onda: através do coma profundo, ou então através de exercícios mentais especiais, de maneira lúcida, isto é, sem perder os sentidos. Em ambos os casos, desaparecem os bloqueios entre consciente e inconsciente. No estado em que se encontrava o referido Irmão, foi até mais fácil seu cérebro receber as emanações oriundas das concentrações cerebrais dos Irmãos, justamente pela ausência destas barreiras.
Este mesmo procedimento tem sido usado pelas chamadas correntes de orações, que as denominações cristãos muito têm favorecido tantos enfermos.
Então poder-se-ia perguntar se quem participa de uma Cadeia de União com esta finalidade estaria praticando procedimentos religiosos dentro de nossos Templos? Ledo engano. As religiões que assim procedem estão apenas se utilizando de um processo mental já conhecido há milhares de anos, ou seja, da energia psíquica que lhe dão os mais variados nomes e as mais diferentes explicações. No entanto, sabemos que a mente humana é uma fonte infinita de energia cósmica e esta independe das religiões.
Alguns Irmãos, de algumas denominações cristãs evangélicas, por uma questão de princípios religiosos, se recusam a participar da Cadeia de União, alegando que a mesma não poderá ser usada como se estivessem os Irmãos orando, já que as orações para este fim somente poderão ser proferidas dentro de seus templos. Questão de ponto de vista e de fé. Não entraremos em debate quando existir fé na polêmica, porque respeitamos a maneira de pensar de todos os nossos Irmãos.
Parece que os Irmãos, de um modo geral, gostam de participar de uma Cadeia de União em favor de algum enfermo, mas quando se trata de comentar seus efeitos, seus resultados, eles emudecem. Preferem não comentar. Apenas alguns ousam.
Em todo o nosso trabalho, fizemos questão de evidenciar uma energia que todos nós temos, sem a necessidade de sermos paranormais e que, quando somada à dos demais Irmãos, ela se toma muito poderosa e que esta bateria psíquica não é apanágio das religiões. Trata-se apenas de um dom que o Grande Arquiteto do Universo deu a cada ser humano. Resta somente sabermos usá-la sempre para o bem.
«No Rito de Schroeder ou Alemão, a Cadeia de União é obrigatória no final de cada Sessão. Ela é usada nos demais ritos, menos no Rito de Emulação ou de York (Inglês), que ignora esta prática. »
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