Um dos momentos mágicos de nossa Instituição é quando o nosso irmão Aprendiz do seu padrinho, dois pares de luvas brancas. Naquele instante lhe é informado que um dos pares de luvas, será usado pelo neófito nas ocasiões de galas, nos grandes eventos, nas sessões iniciáticas. O outro par de luvas será destinado pelo aprendiz aquela pessoa que mais direito tiver a sua afeição. A escala de valores permite ao iniciado quando solteiro a deliberar livremente a quem pode recair a sua escolha: pode a indicação ser da namorada, da mãe, da irmã, da tia, da avó, enfim, daquela pessoa super especial em sua existência. Melhor dizendo, aquela exatamente que deixou marcado em seu coração o sinete de sua gratidão. É a premiação de uma pessoa que concorreu diretamente para o seu afeto pessoal.
É de regra geral, que quando o iniciado é casado, deve sempre entregar o par de luvas a sua esposa. Aquela, companheira de todos os dias. A verdadeira alma gêmea, que comunga no dia-a-dia todos os seus sonhos, ameniza suas tormentas, que acalenta o seu filho, que sopesa os tropeços, que permanece ao seu lado nas quedas, que enxuga suas lágrimas, que sussurra sempre ao seu ouvido, dizendo: fique tranqüilo, pois estou ao seu lado, sempre. Mas, entretanto, nada impede que a escolha também recaia na pessoa de sua mãe, ou outro ente querido de sua estima pessoal. A escolha é um ato personalíssimo que somente o nosso coração poderá direcionar.
Com esse objetivo, a Maçonaria quer mostrar que o calor fraterno e os benefícios de nossa magna instituição se estendem também a família do Maçom, embora se saiba que a mulher, tradicionalmente, não tenha acesso a iniciação, mas é ela que obrigatoriamente aprova o candidato permitindo o seu ingresso em nossos augustos mistérios. E tanto é verdade, que se a esposa manifestar-se contrária ao ingresso, o profano terá que aguardar a sua aprovação. Na maçonaria, quem diz o “sim” para o candidato é a sua própria esposa. Com este gesto simbólico, a família do novo irmão ingressará espiritualmente da Grande Cadeia da Fraternidade na busca da construção de um mundo mais solidário. Afinal, a conjugação da família e lar, é uma dicotomia que será sempre uma referencia para nossa Instituição, porque com base nesses dois exemplos, estaremos fortalecendo o instituto social do relacionamento a todos os homens de boa vontade espalhados na superfície da terra. E o fórum que irá legitimar nossas ações será os nossos próprios corações, onde por certo, todos os iniciados vivenciarão o seu amor à prática da virtude, comungando este desejo, com aquela que compartilha ao seu lado de toda a sua existência. E essa lição não foi editada pelos homens, portanto já haviam sido compiladas através dos ensinamentos do Maior dos Iniciados que é DEUS. através das Sagradas Escrituras, aliás, Tábua de Ensinamentos permanente de nossas lições.
A história nos remete ainda, que o símbolo emblemático da entrega das luvas brancas, é também utilizada nas cerimônias da igreja católica, onde os bispos e sacerdotes da mitra usam sempre nas suas cerimônias com o nome de “luvas litúrgicas”.
Na realidade a invenção das luvas data historicamente da Idade Média, ainda que, na Mitologia, seja atribuída a Vênus, filho do Mar e a namorada de Adônis, que desejava defender suas mãos contra o perigo dos espinhos, o que foi contemplada no seu mister com dois estojos para guarda de seus delicados dedos.
Todavia, na realidade as primeiras luvas que se conheciam foram as “guantes” de ferro que usavam os guerreiros com as suas armaduras antigas, no período da fortificação feudal, quando empunhavam suas lanças, montantes, elmos, fazendo parte do vestuário e uma das peças mais importantes da armadura antiga, além das episcopais, executadas com fio de ouro. Mais tarde, as damas venezianas exibiram luvas de grossa pele de cervo, recobertas de ouro e pedrarias, que serviam de proteção aos ataques do falcão “guante”. Que tem esse nome, em razão de suas temíveis garras que se parecem de ferro.
A designação “guante” dava idéia de truculência, designando aquela pessoa que tinha mão de ferro. Armando Fontes, na sua inesquecível obra Os Corumbás, comentava que o “Presidente do Estado, nessa época era um homem voluntarioso e truculento (...). Sob o seu guante a oposição não desfrutava de um só momento de trégua”.
No tempo de Luiz XIV, as damas inventaram os “mitenes” (as famosas meias luvas) para descobrirem a ponta dos dedos.
Naquela época, dizia-se para que a luva fosse perfeita, três países deveriam contribuir para sua confecção: a Espanha para preparar a pele, a França para corta-la e a Inglaterra para cose-la.
Nos primórdios do Século XIX, os discípulos do famoso Brumell, considerado o árbitro da elegância em seu século, criaram o famoso “Clube das Luvas”.
Essa peça de vestuário que se ajusta à mão e aos dedos, utilizado como adorno, proteção ou higiene, tem na trajetória de sua existência singular importância. E é comum ouvirmos “assentar como uma luva”. Isto é, convir perfeitamente. O “atirar a luva”, ou seja, desafiar, reptar. “Dar com luva de pelica”, responder ou agir de modo delicado, porém de irônico ou mordaz. O texto quando é refinado se diz comumente “escreveu com luva branca”, isto é, quando elaborado com todo o requinte e delicadeza. A alocução “levantar a luva”, é o mesmo que aceitar o repto ou o desafio”. As luvas brancas fazem parte de nossa indumentária simbolizando a paz que todos nós maçons devemos buscar no relacionamento entre os irmãos, na senda da verdadeira fraternidade entre os homens. É o nosso desejo manter sempre em nossa sociedade homens de mãos limpas e as luvas brancas é o símbolo ideal para sua proteção. Parabéns aos novos iniciados, aos seus familiares que com certeza vieram acrescentar alguns elos em nossa corrente da igualdade. Que o Grande Arquiteto do Universo vos iluminem e guardem, agora e sempre.
Ir.´. Edson Oliveira dos Santos
Loj.´. Liberdade, Igualdade e Fraternidade nº 5
(GLMERJ)