Segundo o mestre historiador Rizzardo da Caminho, em sua obra “Catecismo Maçônico”, que recomendo, absorvemos os seguintes ensinamentos sobre o tema em questão:
“A busca da Palavra Perdida criou a Liturgia; os Maçons vêem no ato o seu Grande Trabalho. O primeiro passo que é dado diz respeito à meditação profunda que o Rito orienta, e que o Grau de Mestre se fixa nos Cinco Pontos.
Adentrando na alegoria da lenda iremos nos encontrar em plena função, em uma Câmara do Meio onde se desenvolve, no luto e na consternação, o trabalho maçônico, conseqüências do assassinato de Hiram; a história cede lugar aosimbolismo.
No Rito, Hiram se identifica como sendo o Mestre Perfeito, e na lenda ele personifica a própria Tradição Maçônica.
Nos três Companheiros trucidadores vemos o tríplice flagelo da ignorância, do fanatismo e da ambição.
A Lenda restringe a três o número dos malfeitores; não devemos, porém, ignorar que cada um deles personifica um “estado de espírito”, muito presente em nossos dias.
A Tradição Maçônica encontra-se em constante perigo, porque, se justiçados os três maus Companheiros, desaparecem, apenas, seus sentidos materialistas, mas os efeitos perduram. Sabemos que em cada um de nós há traços indeléveis desses assassinos.
No conjunto sempre crescente de Maçons, há aqueles que não compreendem que, da Iniciação, surgiram obrigações a cumprir.
Maçons que tiveram as suas arestas atingidas e caídas do bloco, mas que, “juntaram-nas” e as guardam como relíquias, não querem se desfazer desses supérfluos. São os aproveitadores, os ambiciosos, os portadores dos mesmos defeitos encontrados nos Companheiros Jubelos.
São os caçadores de Graus.
Uma vez que não se tem mais fé na Tradição, essa desvanece e tem vida transitória; é o braseiro cujas brasas estão cobertas e quando o sopro vital vem. Quando surge é tarde, porque só restam cinzas.
A Maçonaria não morre, porque é uma Instituição que tem o poder de resistir, porque o seu trabalho se dirige ao aperfeiçoamento do homem; é um trabalho autorizado por Deus, e Ele o protege.
Os seus inimigos não se encontram fora da Instituição; os pequenos temporais são previstos e a Instituição encontra o caminho da resistência e planifica a vitória; mas as infiltrações, aquelas que trazem consigo os “vírus”, as “infecções”, os “nocivos”, esses continuam sendo o espírito negativo dos maus Companheiros.
A Igreja, em tempos passados, desejou destruir a Maçonaria como fez com a Ordem dos Templários. Havia um inimigo visível, muito diferente daqueles três maus Companheiros.
Hoje, nas portas principais do Templo, estão os “terroristas” da Instituição, prontos a golpear.
A Maçonaria não faz mistério quanto ao perigo interno que ameaça não só a si, mas a toda a Humanidade, porque os Jubelos trazem consigo o germe da morte e da decomposição.
Os inimigos externos, talvez, possam obstaculizar ou paralisar as atividades maçônicas, mas não matam. O inimigo interno atua como uma enfermidade: mina a saúde e arrasta ao túmulo.
Não devemos esquecer que os três Companheiros foram bons Aprendizes, que colaboraram com eficiência na construção do Templo, que estavam prestes a alcançar o mestrado!
Os Jubelos podem ser considerados inimigos impessoais, que não se dirigiram exclusivamente contra Hiram, mas contra a Humanidade e que a finalidade da Maçonaria é, justamente preservar essa Humanidade da qual todos fazemos parte.
Mas antes de dirigirmos os nossos olhares para fora da Instituição, cumpre sanear as nossas próprias searas, combatendo a praga perigosa, curar a nós próprios, buscando cada um encontrar dentro de si o mau Companheiro, para eliminá-lo.
Os germes proliferam, quando encontram ambiente propício, assim é, na Maçonaria; quando surgem os períodos críticos, os maus Maçons proliferam; os dirigentes, os Mestres cônscios de sua responsabilidade, devem prevenir, na fase crítica, a tomada pelos germes do campo e, rapidamente, introduzir o medicamento apropriado.
Essas crises periódicas coincidem com a crise social e econômica de um país; assim, quando externamente aparecem os sintomas, fácil será planejar para que os germes não ingressem no Templo.
O trabalho maçônico seria de grande utilidade e poderia influenciar nesses períodos críticos, se os Maçons fossem todos instruídos, tolerantes, desinteressados; a influência moral, o exemplo, seriam fatores irresistíveis para contornar a ação dos maus.
Embora os assassinos de Hiram tenham surgido de dentro da Instituição, sem dúvida, receberam a influência negativa de seu meio ambiente externo.
Não basta uma ação higiênica, mas sim uma profilaxia enérgica, constante e sempre presente para que haja uma real e necessária “imunização”. Sim, o Maçom deveria estar imune às crises periódicas.
Os assassinos de Hiram foram três, porém esse número é simbólico, pois, antes de terem sido eliminados, proliferaram junto àqueles que lhes deram abrigo e proteção. Hoje são em número incontável. São os que desconhecem a Maçonaria a quem criticam e censuram, invocando a necessidade de uma “modernização” para ajustarem-se aos tempos modernos de tecnologia e progresso social.
Em nome do progresso, procuram destruir tudo o que seja tradição; aplicam o primeiro golpe com a Régua sobre o ombro de Hiram, paralisando seu braço direito e impedindo-o de uma reação defensiva.
É a “simplificação”, o intuito de “tirar uma pretensa monotonia” e de simplificar o Ritual com atos de liturgia “desnecessária”. A conservação íntegra do Ritual é a garantia da sobrevivência; perdida a tradição, torna-se presa fácil dos assassinos.
São os Maçons “donos da verdade” que obstaculizam aqueles que não seguem a sua vontade; são os infalíveis e criadores de dogmas sem poderem apresentar a origem de suas idéias, fruto de intolerância.
Os maus nem sempre são os piores! Podem ser os ex-dirigentes que, vencidos em um pleito, para se manterem perpetuamente, no poder, transformam-se em desagregadores. São os que dão o segundo golpe em Hiram, agora com o Esquadro e sobre o coração.
Golpeado com a Régua e com o Esquadro, evidentemente, Hiram vacila, cambaleia, enfraquece e se torna presa fácil.
Assim débil, quem aplicará o golpe final será um membro dos mais modestos, que sozinho não teria capacidade de destruição.
É o golpe mortal. Vemos, então, uma Loja Abater Colunas, exigindo grande esforço para reerguê-las. Freqüentemente, apesar de não ser regra geral, os maus juntam-se e fundam uma nova Loja!
Aparentemente, o trabalho é elogiado, mas ninguém se dá conta de que é obra de dissensão, dissidência, e quem sofre é a própria Instituição. Ao invés de uma Loja pujante, surgem várias cambaleantes e inexpressivas; fáceis, porém, de serem tomadas de assalto por aqueles que foram os inspiradores, permanecendo ocultos, mas ativos.
A Maçonaria, nas mãos desses, é desviada de seus elevados fins; Hiram morre; a tradição se apaga; a Palavra está perdida; o maçonismo perece. O seu cadáver putrefica-se.
Os verdadeiros discípulos choram, se reúnem, providenciam as exéquias, descobrem os assassinos, punem-nos e por serem verdadeiros iniciados, os verdadeiros operários, buscam a ressurreição de Hiram, e, rejuvenescidos, reiniciam o trabalho.
Para a ressurreição, se faz necessário reconstruir a tradição; juntar os membros dispersos do cadáver para a recomposição.
A iniciação é reexaminada em todos os seus aspectos e é adequada aos tempos atuais, à personalidade dos remanescentes e dos novos; retiram-se dela os vícios e as falhas; a substância da regeneração é alimentada; evolui, fermenta e cresce com toda a pureza da matriz.
Eis o porquê das viagens dos Maçons remanescentes, para todas as direções, com a finalidade de encontrar os restos de Hiram.
A dificuldade inicial encontra oposição na busca, porque o primeiro túmulo que os assassinos, provisoriamente, criaram foi sob os escombros da construção; sob os materiais imprestáveis, onde ninguém suspeitaria que pudessem abrigar o Mestre.
Esse primeiro túmulo não é descoberto e os próprios assassinos exumam o cadáver e na calada da noite o conduzem para a alta montanha; cavam uma nova cova profunda; despem Hiram e o soterram entregando o pó ao pó, a terra à terra e as cinzas às cinzas. Marcam o local com um ramo de Acácia.
É a primeira manifestação do arrependimento tardio. A homenagem à sua indefesa Vítima.
Escolhem uma planta que não apodrece, cuja resina conservará o lenho, num confronto com a matéria que se putrefará.
É o dualismo e o resultado das lições que o próprio Mestre lhes havia ministrado.
E são os assassinos que transformam a Acácia em um símbolo, numa comprovação de que do mal pode surgir o bem;as raízes eram boas, mas a insatisfação, a pressa, a ambição sufocam a bondade.
A lenda apresenta um fato curioso: não há lugar para o perdão aos assassinos!
É uma situação muito triste, mas real. Mais tarde, o Nazareno, já crucificado, diria contra os seus algozes: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem”.
Mas os assassinos tinham sido iniciados; tinham passado pelo Aprendizado, conheciam a Régua das 24 Polegadas e o Esquadro; não podiam repudiar o convívio com os Irmãos. O castigo, embora escolhido por eles próprios, foi incisivo; a Justiça de Salomão era diferente de justiça do Cristo.
O Rito Escocês Antigo e Aceito comporta as duas Justiças: a Salomônica e a Cristã. Como devemos agir com os assassinos? Esses que ressurgem como as cabeças da mitológica Hidra?
Ao ser colocado o ramo de Acácia, os assassinos quiseram simbolizar que Hiram jamais morreria.
O cadáver é encontrado, recomposto e conduzido, novamente, ao Templo para ser, carinhosamente, colocado em um local sagrado; não mais sob os escombros, mas em local de honra e glória.
Embora essa glória não tenha sido permanente; eis que Nabucodonosor destrói o Templo, não deixando pedra sobre pedra. Mas... Hiram ressuscita; apenas seu corpo putrefato foi deposto. Porém, Hiram não ressuscita por si só; não responde ao primeiro chamado feito à vitalidade que poderia ter conservado, a força que “Boaz” simboliza.
Em vão tenta-se acordá-lo com o estímulo de um ardor amoroso, “Jaquim”.
A sua vida anterior não revive; é preciso dar-lhe um novo alento: o sopro do ideal que provém da Iniciação. É o símbolo da “Cadeia Regeneradora”; aqueles que a formam não ficam apenas na contemplação; reúnem forças, amor e com os mais fervorosos ideais espargem energia psíquica, espiritual e física que reanimam o cadáver, que é erguido e se liga aos cinco pontos do Mestrado. É o resultado do culto do trabalho, dos esforços, da reciprocidade, enfim, da fraternidade.
Nem todos, porém, podem unir-se ao cadáver pelos cinco pontos; um só é destinado àquela missão; é um trabalho de um só, mas sob os fluidos de todos; é a soma das forças. O escolhido é o sábio Mestre remanescente.
Mas, a Palavra continua perdida e urge encontrar uma substituta e essa é composta, tornando-se um grande símbolo.
“A carne se desprende dos ossos”. Não há a compressão das células; cessou a força centrípeta.
Os ossos, por sua composição química, são imputrescíveis; o cálcio é um mineral que se eterniza; a carne é volátil; é o espírito que se afasta da matéria, e a única forma de reuni-los é usar a Palavra Sagrada; se a original se perdeu, uma nova surge. Sempre surge um novo meio quando houver a necessidade de uma união!
O segredo de tudo (maçônico) é, sempre, buscar e encontrar um meio de unir, pois, para a desunião, sobram meios!
A Palavra Perdida, ao final, será encontrada; o Rito é sábio e dá a Palavra Perdida como prêmio àqueles que perseveram até o fim.
A ressurreição é um mito antigo; vamos encontrá-lo nos mistérios Védicos, quando o Ser Supremo imola a si mesmo para produzir tudo o que existe; vamos encontrá-lo em Hermes, em Orfeu, em Osíris e, finalmente, em Cristo.
O renascimento é produzido ao ar livre; nos lugares mais elevados, em contato com a Natureza, porém, é consagrado em Templo.
Nós somos Túmulo e Templo. Hiram apodrece em nós e ressurge em nós. Dentro de nosso Templo Espiritual, temos, maçonicamente, a presença permanente de Hiram.
Espiritualmente, temos o Cristo em nós. Somos, sempre, uma “morada”.
A diferença do conteúdo está no continente: ou temos Hiram dentro de nós, no Túmulo, ou dentro de nós, no Templo.
É preferível tê-lo no Templo!
Os Maçons que não se instruem o têm no Túmulo.
E cada vez mais apodrecido!
Isso reflete em seu comportamento.
Há uma simbiose de Maçonaria e Igreja.
Socialmente temos, como cristãos, em nosso Templo, o Cristo, com as conseqüências litúrgicas religiosas.
Maçonicamente, temos Hiram em nosso Templo.
O Templo é suficientemente amplo para conter os dois símbolos, compatível isso, com o dualismo das coisas.
Como Igreja, aspiramos ao Reino de Deus na Terra; como Maçonaria, à Fraternidade Universal.
Ambos, com sólido fundamento: o Amor fraterno!
Esse amor, felizmente, perdura!”.
Fonte: A obra acima citada.