Tema: “A Moral Maçônica e a Iniciação”
Autores: José Alberto Clemente Junior - Ir\ Ap\.
Luciano Moreira dos Santos - Ir\ Ap\.
Silvio Dias Furtado - Ir\ Ap\.
A\ R\ L\ S\ CAVALEIROS NOAQUITAS N.º 169
16 de Setembro de 1.996 da E\ V\
A G\ D\ G\ A\ D\ U\
Ven\ Mestre,
Ir\ 1º e 2º VVig\,
MM\ IIr\:
“A Maçonaria consiste de um sistema sacramental que, como todo sacramento, tem um aspecto externo visível, consistente em seu cerimonial, doutrinas e símbolos, e outro aspecto interno, mental e espiritual, oculto sob cerimônias, doutrinas e símbolos, e acessível só ao Maçom que haja aprendido a usar a sua imaginação espiritual e que seja capaz de apreciar a realidade velada pelo símbolo externo”. (WILMSHURST, in “The Meaning Masonry”, pág. 21)
A terceira instrução diz respeito às qualidades indispensáveis ao profano para se unir a nós, Maçons. Em relação a estas qualidades, além do que foi aprofundado nas outras instruções, cabe destacarmos alguns conceitos. Todo aperfeiçoamento deve ser feito com o esforço de nossa inteligência, esta faculdade que todos concordamos nos é dada pelo GRANDE ARQUITETO, CRIADOR DO UNIVERSO, e que nos torna capazes de empreendermos as nossas ações distinguindo, dentre elas, o Bem do Mal. A inteligência a ser empregada nestas obras e realizações é algo susceptível de progresso e de aperfeiçoamento. Uma vez dominadas as nossas imperfeições, quer no aprimoramento das nossas virtudes, quer por uma simples elucidação do saber, estaríamos alcançando, com nosso pleno julgamento, a Retidão em nossas condutas e a Justa Medida para com os nossos semelhantes - pautando-nos, enfim, pela Igualdade e a Justiça.
Tais deveres do homem para com os seus semelhantes e para consigo mesmo são a consistente realização que se entende por Moral, que se referem diretamente à inteligência. E a Maçonaria segue uma Moral pura e propícia à formação humana, pretendendo zelar, através de ensinamentos completados em seus mistérios e alegorias, pela instrução da Ação Moral, obtendo a Promoção integral de seus filiados. Como tais ensinamentos são considerados pelo ponto de vista social sobre o individual, nossa Ordem busca atingir o sentido do desenvolvimento social dos Irmãos, ou seja, visa aplicar a Moral Maçônica à realidade social.
O verdadeiro objetivo da Maçonaria pode resumir-se em extinguir, dentre os homens, os preconceitos de classe, cor, origem, opinião e nacionalidade; em aniquilar o fanatismo e a superstição e em extirpar os ódios de raça. Assim, eliminar-se-ia a discórdia do seio da humanidade. Em resumo, chegar por livre e pacífico progresso a uma fórmula ou modelo de eterna e universal justiça, segundo a qual todo ser humano possa desenvolver livremente suas faculdades e assim concorrer cordialmente para a felicidade comum da espécie humana.
Segundo tal relato, impõe-se ao Homem que seja Livre. Essa exigência dos Maçons é um resquício de uma época em que existiam servos; subsistiu com o sentido de que cada ser deve gozar de sua plena capacidade - jurídica ou de foro íntimo - para se comprometer validamente. A exigência não implica nenhum descrédito moral e nos remete ao moto da Revolução Francesa, que a Maçonaria adota como lema emancipador e regenerador das classes sociais: LIBERDADE, IGUALDADE e FRATERNIDADE. Só os homens Livres e de Bons Costumes, em igualdade de oportunidades, podem conviver fraternalmente numa sociedade organizada. Os “Bons Costumes¨ (ou uma boa reputação, como se diz) aludem aos valores morais exigidos do futuro Maçom, dos quais já tratamos. Então, passado esse juízo prévio e aprovada a conduta moral do profano, é a hora de sua Iniciação.
Segundo o Ritual, ao chegar ao Templo, nós, postulantes, fomos imediatamente vendados e informados de que as práticas Maçônicas são puramente simbólicas, mas apresentadas de modo sugestivo, e que, se conseguíssemos a graça de sermos recebidos Maçons, deveríamos não nos esquecer jamais dessas provas, de elevado sentido moral.
Levados à Câmara de Reflexões, foi-nos permitido ficar em paz com a nossa consciência, quando nos submetemos à primeira prova, da Terra: o preenchimento de um questionário, chamado Testamento. É o domínio do mundo físico. Superada a prova e preparados pelos Irmãos da Ordem para começar a Iniciação, pediram-nos que nos despojássemos de dinheiro, jóias e tudo quanto fosse metal ou que representasse valor. O significado simbólico consiste em que o candidato entre sem posses consigo, como símbolo de que vai ingressar numa Fraternidade onde nada significam as riquezas, títulos e honras do mundo profano. Também se supõe que esta parte da preparação se refira miticamente a que, ao construir-se o Templo de Salomão, não se ouvia em seu recinto o ruído de qualquer machado, martelo ou instrumento de ferro, pois as pedras eram completamente preparadas nas pedreiras e colocadas em seus lugares por meio de malhetes de madeira.
Foi-nos preparada a indumentária e, segundo o Ritual, a camisa deve deixar o peito e o braço esquerdos desnudos, bem como deixados descobertos nosso pé direito e nossa perna esquerda, até o joelho. Diz-se que o profano deve entrar no Templo ¨nem nu nem vestido¨ e simbolicamente descalço. Trata-se de simbolismo recorrente a algumas passagens bíblicas - o Êxodo (III : 5) e o Livro de Isaías (XX: 3).
Assim, o primeiro objetivo deste curioso método de preparação é expor à influência magnética as diversas partes do corpo especialmente empregadas na cerimônia, fundamentando-se nos sustentáculos ou pontos de contato com o solo no momento da admissão. O peito esquerdo está despido para que recebamos na pele o toque da ponta da espada ao entrar na Loja e para que se prove que o candidato não é uma mulher disfarçada. A desnudez do coração objetiva figurar a de todo preconceito ou ódio, que impedem a manifestação sincera dos sentimentos. O joelho esquerdo está despido porque é sobre ele que devemos nos ajoelhar; simboliza a extirpação da vanglória, do orgulho intelectual que nos impede a genuflexão ou a inclinação do joelho ante o Altar da Verdade. O pé direito desnudo tem o significado descrito como de acordo com antigo costume hebreu, quando alguém assumia uma obrigação ou contraía um compromisso. É o que cita a Bíblia no LIVRO DE RUTE (IV : 7-8).
A venda nos olhos, por fim, é o nosso estado de ignorância ou cegueira no mundo profano; no corpo físico, é a cegueira dos sentidos. Devemos entrar no Templo com os olhos vendados, a nos indicar que no Templo da Sabedoria não podemos nos servir simplesmente dos sentidos, porque a verdadeira Luz, do saber interno, é sentida e não vista. Vendados, devemos iniciar as viagens, significantes do esforço que o Homem faz para atingir seu objetivo.
Realizamos durante a nossa Iniciação três viagens.
A primeira viagem, repleta de dificuldades, com muitos perigos e rumores. Representa a prova da Água ou domínio do corpo de desejos ou sua purificação. O Guia (ou Cristo Interior), representado pelo Irmão Experto, ensina-nos o bom e o verdadeiro e a nós cabe sermos dóceis às suas instruções. A direção dessa viagem é do Ocidente para o Oriente, pelo lado Norte. Ela começa no Ocidente, quer dizer, do nosso conhecimento objetivo da realidade exterior, e prossegue pela obscura noite do Norte em nossa busca da Verdadeira Luz no Oriente, não nos devendo assustar com a escuridão ou com as dificuldades que se encontrarem em nosso caminho para a Luz.
Uma vez chegados ao Oriente, mundo da Luz, não devemos nos deter ali; ao contrário, devemos voltar ao Ocidente com a consciência iluminada que nos permita encarar, com mais serenidade, as dificuldades e os preconceitos do mundo.
A segunda viagem, por sua vez, é a prova do Ar e representa o triunfo sobre o corpo mental ou mundo mental. Mais fácil que a primeira, já não há obstáculos violentos e o esforço dispendido na primeira nos ensina como superar as dificuldades que se encontram no caminho da evolução, uma vez dominados os nossos desejos. É a luta individual, íntima, para o domínio da mente sobre os pensamentos negativos e o segundo esforço para regrar a vida em harmonia com os ideais elevados. É, de fato, o Batismo do Ar, cujo objetivo é purificar a mente e a imaginação de seus erros e defeitos. O choque de espadas que se ouve durante essa viagem é o emblema das lutas que se travam em redor e no íntimo do Iniciado.
A terceira viagem é o Batismo de Fogo ou do Espírito Santo, para a qual fomos preparados pelas viagens antecedentes. É realizada com ainda mais facilidade que as duas outras. É a purificação mais profunda, traduzida no dístico “INRI”, em significado simbólico: “Ignea Natura Renovatur Integra” - o fogo renova integralmente a natureza. Desaparecidos os obstáculos e os ruídos, só se ouve uma música profunda e harmoniosa.
Ao final de cada viagem, batemos em uma porta. A primeira delas, significando a Sinceridade, ficava ao Sul (Meio-dia) e nela mandaram que passássemos. A segunda, cujo significado é a Coragem, ficava ao Norte e nela fomos purificados pela Água. E a terceira, cuja significação é a Perseverança, localizava-se no Oriente e nela fomos purificados pelo Fogo. Simbolicamente grava-se com o Fogo da Fé os corações dos Iniciados; e a Fé é o único selo pelo qual os Maçons se reconhecem entre si.
Prestamos então o nosso Juramento, cujas obrigações são três:
* 1ª - O silêncio. Lei importante do hermetismo é não revelar a ninguém os segredos da Ordem;
* 2ª - Não escrever, gravar ou formar nenhum sinal que possa revelar a Palavra Sagrada. Esse é o Verbo Divino que se acha em todo ser. O Verbo Divino ou Ideal Divino deve operar do interior para fora e nunca deve ser visto pelos olhos das paixões, como os que se vangloriam de seus poderes;
* 3ª - É a União Eterna com a Fraternidade Espiritual, com seus ideais, aspirações e tendências. Firmamos o compromisso de ajudar os nossos Irmãos a cada momento.
Uma vez firmados os três deveres do Juramento, foi-nos dada a Luz - A Luz da Verdade. Efetuou-se esse símbolo fazendo cair as vendas de nossos olhos, as quais representam a ilusão que nos impede de ver a essência da Verdade. A Luz, a refletir-se nas espadas empunhadas por nossos Irmãos, simboliza a Luz interior que passa livremente e se derrama no mundo externo para fazer desaparecer, pouco a pouco, todo temor e qualquer dificuldade.
A princípio, ficamos deslumbrados. Essas espadas apontavam para nós mas não representavam ameaças ou sequer produziam qualquer sensação de medo. Elas demonstram as dificuldades que devem os Iniciados afrontar no cumprimento constante de seus ideais - não deveremos jamais renunciar a aspirações elevadas. Vistos pelos Irmãos com a firmeza de nossos propósitos, baixam-se as espadas, com o significado de que as dificuldades são vencidas ante a firmeza da Fé.
Concluindo vem o Ato de Consagração, para o qual fomos levados diante do Altar. Ali, ajoelhamo-nos sobre o joelho esquerdo, ao passo que o direito ficasse em forma de esquadro. Confirmamos então nossas obrigações e o Venerável Mestre, batendo com o Malhete três vezes na lâmina da Espada Flamígera, antes de pousá-la sobre as nossas cabeças, deu por cumprido o ato ao som da terceira vibração.
Para finalizar, mister reforçar, ainda hoje, nossos votos, lembrando um momento da Iniciação em que se recita a seguinte Prece: “Digna-te, ó G\ A\ D\ U\, em proteger a todos nós Obreiros. Anima o nosso zelo, fortifica a nossa alma na luta das paixões, inflama o nosso coração no amor da virtude e guia-nos. Presta-nos agora e sempre a Tua proteção e ampara-nos com o Teu braço onipotente em todas as provas e dificuldades. Que assim seja!”
BIBLIOGRAFIA:
· Castellani, José : LITURGIA E RITUALÍSTICA DO GRAU DE APRENDIZ MAÇOM (EM TODOS OS RITOS);
· Figueiredo 33º, Joaquim Gervásio de: DICIONÁRIO DE MAÇONARIA;
· Leadbeater 33º , C. W. : A VIDA OCULTA NA MAÇONARIA;
· Adoum , Jorge : GRAU DE APRENDIZ E SEUS MISTÉRIOS;
· RITUAL DE APRENDIZ MAÇOM - RITO ESCOCÊS ANTIGO E ACEITO.