José Bonifácio




Que dizer de José Bonifácio? E’ bastante citar o ato de D. Pedro 1º, que, não obstante separado, politicamente, dele, o nomeou tutor de D. Pedro 2º, por Decreto de 1831, uma das maiores honras da época.

E qual o melhor elogio do velho paulista senão estas palavras, com que Ledo, apesar de todos os pesares, se referiu a ele, no dia de seu falecimento, em carta a Clemente Pereira, pedindo a este para ir á Maçonaria falar :

"... sobre esse grande espírito que se apagou... sobre esse ilustre brasileiro... que... não deixou de prestar serviços ao pais com a sua grande inteligência."

Na sessão de reorganização do Gr. Or. do Brasil, José Bonifácio invocou a proteção do GADU, para nossa Ord., com a seguinte peça de arquitetura, mandada imprimir e transcrever na respectiva ata :

" GADU! Penetrados de profundo respeito e gratidão para contigo, hoje que, inesperadamente para mim, se acha reinstalado o Gr. Or. Brasileiro; e adormecidas como é de esperar as paixões violentas e desacordadas, que tantos males trouxeram á Maçonaria e ao Estado, Entre Supremo, cumpre-nos principiar nossos trabalhos, encaminhando-te fervorosamente nossas orações, nossos votos e homenagens. Ah! possamos nós alcançar, ao menos, um pequeno sinal daquela complacência que sempre reservaste aos homens de bem, que te procuram. Sim nós esperamos merecer de ti o teu amor paternal, de que tanto precisam os Maçons Brasileiros em nossas tristes circunstancias.

Na tua angustia presença, Gr. Arch. do Univ., nós sentimos o nosso nada; e reconhecemos humildemente o quanto ainda nos aviltam o orgulho ou a vaidade ; confessamos que ainda estamos muito apartados da moral universal, da virtude e da concórdia, de que tanto precisamos para sermos homens bons e cidadãos honrados. Hoje, porém, reunidos, em fim, o único fim e honra a que aspiramos é ser úteis a nossos semelhantes, praticando a moral e contemplando religiosamente as obras primas de tua mão criadora e onipotente, que a todo o instante nos oferece novos objetos á nossa admiração e ao nosso amor.

Digna-te, pois, Gr. Arch. do Univ., lançar sobre nós uma vista de olhos de bondade e de misericórdia! Dá-nos a força e os meios para assegurarmos á Justiça e á Verdade um triunfo glorioso e duradouro.

Debaixo de tua agite tutelar neste novo Templo sagrado, onde nos ajuntamos para celebrar teus benefícios e praticar a virtude, ajuda-nos a combater as trevas com a tua radiosa luz, a trabalhar com novo afinco na felicidade dos Maçons e dos homens em geral e a pregar como convém o amor, respeito e confiança que devem Ter os governos si desejam conservar-se e prosperar."

Em homenagem aos serviços que José Bonifácio prestou á partia e á Maçonaria, publicamos abaixo sua biografia, extraída do livro "Galeria dos Homens Célebres":
José Bonifácio de Andrade e Silva, o Patriarca da independência do Brasil, teve por berço a outrora vila de Santos, no atual e florescente Estado de S. Paulo, a 13 de Junho de 1763.

Tendo iniciado os seus estudos em S. Paulo na idade de 17 anos, seguiu para Coimbra, em cuja Universidade conquistou, no fim de seis anos e com grande brilhantismo, o grau de bacharel em filosofia natural e direito.

Até 1819 ocupou-se José Bonifácio em aperfeiçoar os seus conhecimentos viajando por toda a Europa, colaborando nas principais revistas com a publicação de interessantes memorais sobre vários assuntos e desempenhando importantes comissões em Portugal.

Em 1807 a invasão dos franceses veio despertar-lhe os sentimentos patrióticos e distrai-o de suas lides cientificas. Á frente de um batalhão de estudantes conquistou o posto de tenente-coronel, batendo-se contra as tropas invasoras em prol da independência portuguesa.

Chegando ao Rio de Janeiro, deu-se pressa em volver para o seu berço natal, do que ausentara-se havia trinta e nove anos ; e ali, no seu retiro de Outeirinhos, redobrou de atividade, procurando em longas excursões estudar a mineralogia de S. Paulo.
A revolução de Portugal de 1820, fazendo repercutir os seus efeitos no Brasil com medidas opressivas, provocou a reação da parte dos naturais, e desde então salientou o vulto do eminente patriota José Bonifácio, que, chegando de S. Paulo á frente duma deputação que vinha pedir ao príncipe que não deixasse o Brasil, foi a 16 de Janeiro nomeado ministro dos negócios do reino e dos estrangeiros.

Desde essa época a biografia desse grande varão tornou-se intimamente ligada á historia da revolução da independência do Brasil O seu acendrado patriotismo teve que pagar o tributo peculiar aos grandes heróis : envolvido nas lutas políticas, teve em breve tempo a recompensa dos seus serviços com o desterro para a França, em companhia de seus dois irmãos.

Volvendo á partia, resolveu recolher-se á obscuridade, procurando modesto refugio na graciosa ilha de Paquete, quando os acontecimentos políticos de 1831 exigiram a sua interferência nos negócios da nação.

Com a abdicação de D. Pedro 1º, a 7 de Abril, foi o benemérito patriota nomeado tutor do jovem monarca e de suas irmãs. Suas posteriores agitações políticas concorreram para a destituição desse elevado cargo, que tão continuamente exercia no seu modesto retiro de Paquete, onde passando a residir em Niterói, ali faleceu a 6 de Abril de 1838.

Porém a posteridade soube recompensar os serviços do Washington brasileiro erigindo-lhe uma estatua na praça de S. Francisco de Paula, na cidade do Rio de Janeiro.

Texto extraído do Boletim Oficial do Grande Oriente do Brasil de 1922