ASSINANDO COM TRÊS PONTOS


TRABALHO  DO  GRAU  DE  APRENDIZ  MAÇON

ASSINANDO  COM  TRÊS  PONTOS
- Origens e razões históricas e esotéricas –


Gildo Adagir Meneghello Junior
A:.M:.


Sant’Ana do Livramento, 2004.


Uma coisa que se revela nos mitos é que, no fundo do abismo, desponta a voz da salvação. O momento crucial é aquele em que a verdadeira mensagem de transformação está prestes a surgir. No momento mais sombrio, surge a luz.

Joseph Campbell





Assinando Com Três Pontos
Origem e razões históricas e esotéricas



Como objeto deste trabalho, almeja-se, modestamente, e através da pesquisa bibliográfica, sistematização e re-leitura de textos Maçons clássicos, traçar as origens e teorias acerca das razões históricas e esotéricas do emprego generalizado dos três pontos pelos IIrm:.Maç:., bem como empreender investigação, ainda que tímida, sobre as definições simbólicas a eles ofertadas por hermeneutas e exegetas reconhecidos.

“Três são os pontos que o Maç:. deve se orgulhar de apor a seu nome, pois esses três pontos, como o Delta Luminoso e o Sagrado, são emblemas dos mais respeitáveis”  (Ritual e Instruções – Grau de Aprendiz - Maçon do Rito Escocês Antigo e Aceito,  2001).

Utilizados pela Maçonaria, segundo aponta RAGON, desde 1774, em documentos do G:. O:. da França,  os três pontos visavam, originariamente, à abreviatura de palavras e termos maçons apostos em documentos da Sublime Ordem, a fim de que se mantivesse o segredo na transmissão de ensinamentos ou nas informações contidas nas correspondências entre IIrm:. e entre LL:.. Como leciona ADOLFO TERRONES BENITEZ, “os três pontos são símbolo da discrição”.

Sejam eles originários da arte hieroglífica egípcia (FISCH), herança dos Rosa-Cruzes ou da prática do Companheirismo (JEAN DE PAVILLY), o certo é que, além do uso pragmático como forma de abreviatura e sinal de mútua identificação, os três pontos foram elevados à categoria de símbolo Maçônico, a eles sendo dedicada, inclusive boa parte dos ensinamentos contidos na Sexta Instrução do grau de A.:. M:. do R:.E:.A:.A:.

A transformação da abreviatura em símbolo, segundo assevera NICOLA ASLAN, está diretamente relacionada ao caráter sagrado e esotérico do número três,  o qual é associado às Tríades, às Trindades e ao próprio Delta Luminoso. Tal conclusão é alcançada por influência da Numerologia – ciência secular que estuda os números em relação aos planetas, ao universo, aos sons, às auras dos seres em geral – na Doutrina Maçônica, que, por natureza, é eclética e aberta à pesquisa da Verdade, valendo-se de tudo que tenha consistência axiomática no universal mosaico cultural e espiritual da humanidade.

Como disposto na Sexta Instrução do A:.M:. no R:.E:.A:.A:., para avançar na trilha que encetou, o A:.M:. necessita ter conhecimento da simbologia dos números 1,2,3 e 4.   Conhecer a natureza simbólica destes números é instrumental imprescindível em sua caminhada pela Col:. do S:.  Só assim será capaz de compreender as muitas “coincidências” envolvendo o número três: bateria do grau, a Marcha, a idade do A:.M:., os 3 PP:., as 3 Jóias Fixas da Loja, as 3 Jóias Móveis da Loja, as 3 Grandes Luzes, etc.

Em trabalho publicado na Revista “A Trolha”, o Irm:. Roberto Rubem da Cruz, do G:. O:. de São Bernardo do Campo, nos traz preciosos ensinamentos acerca do simbolismo que envolve os números 1, 2, 3 e 4.  À luz da Numerologia, Irm:. Roberto esclarece que o número UM representa Deus manifestado, a “causa sem causa”, a “Unidade”, o começo, o princípio de todas as coisas, e adverte que, embora sendo a gênese, a unidade, o número UM só de ser compreendido, ou mesmo existir no mundo manifestado, a partir do surgimento do número DOIS.

Este é o paradoxo do UM, que, mesmo sendo a origem de tudo, é estéril e necessita, ao menos no mundo manifestado (material), de “uma outra manifestação igual a si mesma, porém de natureza oposta, que já não é mais a Unidade, pois a unidade que se repete é DOIS”.

A teor dos ensinamentos pitagóricos, o UNO, ou a MÔNADA, constituir-se-ia em verdadeira fonte de que tudo o que é bom, a pura energia divina, é a potência de todas as coisas. No entanto, não há  como qualificá-lo enquanto “ser”, eis que o UNO é anterior a todas as coisas. Logo, ressurge a questão nodal: o que é o UM?

Na lição de Plotino, filósofo fundador do Neoplatonismo, citado pelo Irm:. Raimundo Rodrigues:

  O Um é a potência de todas as coisas. Se não existisse, nada existiria, nem os seres, nem a inteligência, nem a primeira vida, em nenhuma outra. Sendo a causa da vida, está acima da vida. A atividade da vida, que é tudo, não é a primeira, pois que emana dela como de uma fonte

[...]

O UM é destituído de forma, até mesmo da forma inteligível, porque sua natureza que é a geradora de todas as coisas, não é nenhuma delas. Logo não é substância, nem quantidade, nem pensamento, nem alma; (in: A Filosofia da Maçonaria Simbólica, p.  44/45).


O DOIS é número terrível e fatídico, simbolizando o contrário, a dúvida, o antagonismo infrutífero e representando a eterna luta Bem e Mal, Verdade e Falsidade, Luz e Trevas, etc.   É a DÍADE, a DUALIDADE, o DIÁVOLO, ou KAKOS DAIMON, do grego “Espírito Maligno”.

Enquanto Deus é a Unidade, materializada no UM, a matéria é a Dualidade (Díade), representada pelo DOIS. Todavia, tal afirmação merece ser ressalvada, pois para algumas Escolas Iniciáticas o DOIS é o símbolo do equilíbrio, sendo que as diferenças (Bem x Mal, Luz x Trevas, Masculino x Feminino, etc.) são fenômenos óticos visíveis àqueles que se colocam em determinada posição no plano manifestado”, nada mais sendo do fragmentos antagônicos de um único todo que é o G:.A:.D:.U:.

O equilíbrio só ressurge com o advento do número TRÊS, com ele há a harmonização do DOIS, através da neutralização da dualidade. Ou seja, a contradição e o antagonismo de duas forças ( UM e UM, representados no DOIS) são aplacados pela adição de mais uma unidade simbolizada no TRÊS (DOIS + UM). O TRÊS é o ativo + passivo + neutro,  é a tese + antítese + conclusão.

A Luz representa-se através do TRÊS; aquela dissipa as Trevas, assim como o TRÊS dissolve o conflito e harmoniza o DOIS, apresentando-se como a Tríplice Aparência do Equilíbrio, qualidade indispensável àquele que busca, através da liberdade e do trabalho, desbastar a pedra bruta e rumar à evolução espiritual e à realização plena.

Entre as muitas associações relacionadas ao TRÊS ou Ternário (Pai, Filho, Espírito Santo – Passado, Presente, Futuro – Princípio, Verbo, Substância – Buda, Dharma, Sanga – Osíris, Ìsis, Hórus – etc.), gostaria de destacar duas, pela pertinência com o tema proposto, a simbolização do Ternário na SABEDORIA, FORÇA e BELEZA (as Três Grandes Luzes) e VONTADE, AMOR, INTELIGÊNCIA, as três qualidades exigidas ao Maç:.  Nestas últimas associações, relacionadas ao sagrado caráter harmonizador do TRÊS, talvez resida a significação dos 3 PP:.  Muito mais do que simples forma de abreviatura, ou método de mútuo reconhecimento entre IIrm:., o uso dos 3 PP:. aposto às assinaturas dos Maç:. deve relembrar aos IIrm:. o juramento feito à Nobre Ordem Maçônica, bem como as qualidades pelas quais deve pautar suas ações em Loja ou no Mundo Profano, sempre com Sabedoria, Força e Beleza, Vontade, Inteligência e Amor, Igualdade, Fraternidade e Liberdade.

Assim, os 3 PP:. são, na lição de ASLAN, “uma imagem que evoca a idéia de ponderação e conseqüentemente de tolerância, representam, de fato, os dois extremos e o justo meio”.


 Sant’Ana do Livramento,  11 de outubro de 2004.

A:. M:. Gildo Adagir Meneghello Junior,
Loja Saldanha Marinho “A Fraterna”.












BIBLIOGRAFIA:

1.- ASLAN, Nicola. Estudos maçônicos sobre simbolismo. Rio de janeiro: Edições do G:. O:. do Brasil, 1969.

2.- CAMPBELL, Joseph. O poder do mito. São Paulo: Ed. Palas Atena. 16ª ed., 1998.

3.- DA CRUZ, Roberto Rubens. Numerologia e maçonaria. In: Revista “A Trolha”, n.º 196, Fevereiro, 2003.

4.- PEREZ, Álvaro Rodriguez. Irmãos com 3 pontinhos. In: Revista “A Trolha”, n.º 202,
          agosto, 2003.

5.- RODRIGUES, Raimundo. A filosofia da maçonaria simbólica. 1ª Edição. Londrina:
Ed. “A  Trolha”, 1999.

6.- TROLHA, Xico. Símbolos maçônicos e suas origens. Coleção “Cadernos de Estudos
           Maçônicos” n.º 8,  2ª ed. Londrina: Editora Maçônica “A Trolha”, 1996.

7.- RITUAL E INSTRUÇÕES. GRAU DE APRENDIZ MAÇON DO RITO ESCOCÊS
           ANTIGO E ACEITO.  Grande Oriente  do  Rio  Grande  do  Rio  Grande  do  Sul,
           Porto Alegre, RS, 2001.