Januário da Cunha Barbosa



O Pod. Ir. Cônego Januário da Cunha Barbosa, nascido nesta cidade a 10 de Julho de 1780, na ordem cronológica dos beneméritos precursores do glorioso 7 de Setembro, ocupa, com os PPod. IIr. Gonçalves Ledo, Clemente Pereira e General Luiz Pereira da Nobrega, um dos primeiros lugares. 

Foram, na verdade, imensos os serviços que ele e Ledo, seu amigo intimo e companheiro de estudos e na Redação do "Reverbero", prestaram á causa da Independência do Brasil, quer nesse periódico nacionalista, de 15 de Setembro de 1821 a 8 de Outubro de 1822, quer na Maçonaria, juntamente com os IIr. acima referidos. E a prova disso está no fato de Ter o grande estadista Euzebio de Queiroz, na sessão de Câmara dos Deputados de 20 de Abril de 1839, proposto que Ledo, Clemente Pereira e Januário Barbosa fossem convidados a constituir uma comissão, para se incumbir de compilar e escrever tudo quanto pudesse dar esclarecimentos, ao futuro historiador, a respeito do magno assunto. 

Januário Barbosa, por sua inteligência, cultura e erudição, brasileiro notável, foi um dos philosophos mais considerados de sua época. Pregador de nomeada, ao ser fundado o Gr. Or. do Brasil o elegeram para o cargo de seu Gr. Orad. Homem de extraordinária e brilhante atividade intelectual, escreveu durante mais de 50 anos. E tanto isto é exato que todos os letrados daqueles tempos o convidavam para instalar e presidir suas sessões literárias. 

Em 1808 D. João VI o nomeou pregador régio, com cujos sermões se comprazia, repetindo sempre que o julgava o melhor orador sacro. 

Na sessão, de 14 de Setembro de 1822, em que no Gr. Or. se resolveu a aclamação de D. Pedro 1º como Imperador Constitucional do Brasil, Januário Barbosa se ofereceu, de acordo com o decidido, para ir a Minas propagar a proposta adotada, dispor o animo em favor de tal obra e remover quaisquer embaraços. E depois, quando se tratou da formula do juramento, na cerimônia, do monarca, pronto já a partir para a Província, pediu cópia dele e seguiu seu destino. Em Minas, por discursos e atos, impôs seu nome á afeição, estima e elogios do povo. 

Mas chegando ao Rio, no dia 7 de Dezembro, o aprisionaram, em conseqüência da odiosa devassa de 2 do mês antecedente, e o conduziram á fortaleza de Stª Cruz. Depois o deportaram para o Havre em 20 de Dezembro. Nessa cidade embarcou para Paris e da capital da França para Londres, onde mandou imprimir seu poema, em versos, "Niterói", em 1823. 

Absolvido a 7 de Outubro desse ano, por não haver provas no processo que se lhe instaurara, voltou á pátria, sendo, a 4 de Abril de 1824, nomeado, por D. Pedro 1º oficial da Ordem do Cruzeiro e no dia 25 Cônego da Capela Imperial. Mais tarde o jovem Imperador lhe ofereceu sua fotografia, com dedicatória do próprio punho. 

Eleito Deputado, para a primeira assembléia legislativa (1826-1829), pelas Províncias do Rio de Janeiro e de Minas, optou por aquela; finda a legislatura, assumiu a direção do "Diário Fluminense", órgão do governo. Em 23 de Maio de 1826, nas exéquias de D. João VI, pronunciando, no púlpito da Capela Imperial, a oração fúnebre, uma das melhores de sua lavra, disse : 

"Não pode o silencio da morte sufocar as vozes da justiça e da gratidão, quando a memória, dos que ela arranca dentre os vivos, desperta a lembrança de ações grandes que devem chegar á mais remota posteridade. O túmulo, abrindo-se para confundir no seu pó aqueles que o mundo distinguia, respeita todavia o poder da virtude, que salva os seus nomes dos seus terríveis estragos. Aqui finalizam, sim ! os prazeres e as afeições da terra, volvendo á terra o que dela saiu; mas aqui também começa o juízo imparcial dos homens, e quando ele assenta sobre virtude, que o mundo aprecia e que a religião santifica, então pode-se dizer que o homem desce á sepultura, porque o seu nome, muito mais valioso que mio tesouros preciosos, sobrevive ás grandezas da terra e passa abençoada sempre de geração em geração." 

Eis o juízo que dele fez, como orador, um seu biografia : 

"O panegírico, espécie oratória, é a pedra de toque dos oradores sagrados. Nele o Cônego Januário houve-se bem, conquistando calorosos aplausos. Dominado de soberba inspiração e desenhando os trechos usados por alguns históricos pregadores, o certo é que Januário atraia com seus sermões. 

Pregando, principalmente, para instruir, seu estilo era majestoso, tinha profundidade de idéias e admirável eloqüência. Arrojado, de frase fluente, ás vezes ricas de imagens e de flores, era doutrinário, dialético, cheio de encanto. – Foi o primeiro que iniciou, entre nós, as necrologia, prestando culto merecido á memória de varões ilustres, como o padre José Maurício Nunes Garcia e o padre mestre Frei Francisco de Santa Tereza de Jesus Sampaio." 

Por Decreto imperial de 18 de Dezembro de 1830 veio a ser designado para Diretor da Tipografia Nacional, em que serviu até 3 de Outubro de 1834. A 21 de Outubro de 1839 fundou o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, do qual foi Secretario perpétuo e em cujo cargo faleceu, após ter prestado inestimáveis serviços a essa sociedade cientifica. No seio do Instituto demonstrou, ou ano seguinte, que já se preocupava com a colonização dos silvícolas, apresentando, para ser discutida nele, esta tese, logo aprovada : 

"Qual seria hoje o melhor sistema de colonizar os Índios do Brasil entranhados em nossos sertões ; si conviria seguir o sistema dos Jesuítas, fundado principalmente na propagação do cristianismo, ou si outro do qual se esperem melhores resultados do que os atuais." 

Diretor da Biblioteca Nacional, por nomeação efetuada pelo Decreto de 5 de Setembro de 1844, exerceu tais funções até a sua morte. Deu-lhes tamanho brilho, que escritores brasileiros e sábios estrangeiros iam ao seu 

gabinete, a fim de se entreterem, com ele, em animadas e interessantes palestras literárias e cientificas. 

A Província do Rio de Janeiro o elegeu novamente Deputado para a legislatura de 1847, mandato que desempenhou, porém, somente até Fevereiro de 1846, por Ter De colaboração com Ledo, procedeu á analise e critica do poema "Assumpção da Virgem", de Frei Francisco de S. Carlos. 

Alquebrado pela idade, quase sem vista, mas conservando perfeitas a memória e faculdades intelectuais, assim como gozando a admiração dos contemporâneos, o Cônego Januário da Cunha Barbosa exalou o ultimo suspiro a 22 de Fevereiro de 1846, sem ter podido usar o titulo de Monsenhor, com que fora distinguido num dos dias anteriores aquele. 

O saudoso brasileiro possuía também as comendas de cristo e da Rosa, do Brasil, da Conceição de Vila Viçosa, de Portugal, e de Francisco I, de Nápoles.