O Pod. Ir. José Clemente Pereira é, não há dúvida nenhuma, um dos próceres da Independência Brasileira.
Colocado na presidência do Senado da Câmara, em 1822, nesta alta função política trabalhou dedicada e esforçadamente em prol do ideal de nossa partia, fazendo aprovar, no antigo Paço Municipal, todas as medidas, propostas na Maçonaria, que, em nome do povo e a bem do pais, era necessário pedir a D. Pedro 1º , tais como o "Fico", o Conselho dos Procuradores das Províncias, o Titulo de Defensor Perpétuo do Brasil e a Convocação da Constituinte, além das resoluções mais importantes do governo, cuja iniciativa ele não podia tomar.
Dentro da Ordem, Clemente Pereira constituía, com Ledo e Januário Barbosa, a trindade bem dita que, sempre de acordo, pensava e resolvia os planos indispensáveis a emancipação do Brasil e, depois, os vinhas executar, no Senado da Câmara, o primeiro, no "Reverbero", pela pena Adamantina, e na praça pública, por sua oratória inflamada e eloqüente o segundo, e ainda no mesmo patriótico jornal, o terceiro desses inesquecíveis IIr.
Embora nascido em Portugal, no dia 17 de Fevereiro de 1787, Clemente Pereira amava esta terra como si fosse seu filho e lhe prestou enormes serviços em diversos cargos públicos de nomeada, que desempenhou com reconhecida proficiência.
Quando o General Junot invadiu o território português, Clemente Pereira, no posto de Capitão e sob o comando de José Bonifácio, se aliou aos voluntários que pegaram em armas, afim de expelir dali os franceses. Conseguido isso, embarcou para o Brasil, aqui chegando em 12 de Outubro de 1815 e onde permaneceu, muito tempo, no meio da mais ingrata indiferença dos patrícios, apesar de seu heroísmo em Portugal, a ponto, disse o Porto Alegre, de, nos três primeiros anos de sua residência aqui no Rio, ter necessidade de advogar para viver, pois era doutor, em cânones e jurisprudência, pela Universidade de Coimbra !
Da ir, talvez, sua atitude em favor da causa dos brasileiros.
Só em 1819 D. João VI se dignou lhe reconhecer o mérito, nomeando-o Juiz de Fora "para criar a Vila da Praia Grande" (Niterói). Então Clemente Pereira lançou, pessoalmente, os fundamentos da vila e fez, com as próprias mãos, a medição e o alinhamento de suas ruas e praças, construindo sua primeira capela e abastecendo de água. E, também, e edificou á sua custa e com o resultado de subscrições populares, obra efetuada em vinte meses ! Profundamente grata a ele, a Câmara Municipal de Niterói, em 1840, colocou na rua de S. José a seguinte dedicatória :
"Dedicada ao Ilm.º e Exm.º Sr. José Clemente Pereira como o primeiro Juiz de Fora, creador r edificador da vila, e pelos muitos benefícios de que lhe é devedora esta cidade".
Em 31 de Maio de 1822 D. Pedro 1º transferiu Clemente Pereira para o cargo de Juiz de Fora da Corte, promovendo-o, por Decreto de 27 de Setembro, para a Relação da Bahia.
Na sess. do Gr\ Or.\ de 14 de Setembro, na qual ficou resolvida, para 12, a aclamação de D. Pedro 1º "Imperador Constitucional e Defensor Perpétuo do Brasil", propôs os vivos que, como Presidente do Senado da Câmara, daria na solenidade e que eram os seguintes : " A Religião !" "Ao Sr. D. Pedro 1º, Imperador Constitucional e Defensor Perpétuo do Brasil !" "A ‘ sua Augusta esposa ! " A’ Independência do Brasil ! " E nesse dia proferiu, no antigo Campo de Santana, na qualidade acima, um longo discurso concedendo a D. Pedro aquele titulo.
Ordenada, em 2 de Novembro de 1822, a célebre devassa que feriu todos quantos haviam promovido a Independência do Brasil, Clemente Pereira foi preso, dias após, recolhido á fortaleza de Stª Cruz e deportado para o Havre, França, seguindo para ai a 20 de Dezembro. Mas, absolvido, em 7 de Outubro de 1823, por falta de provas, D. Pedro 1º, compreendendo, naturalmente, que o haviam levado a ser injusto para com ele, nomeou-o : no dia do aniversario natalício da princesa D. Paula, 17 de Fevereiro de 1824, dignitário da Ordem do Cruzeiro ; Intendente Geral da Policia, a fim de substituir o Conselheiro Aragão, por Decreto de 25 de Agosto de 1827; Ministro do Império, da Guerra, da Fazenda e da Justiça (1828), dos Estrangeiros e da Guerra (1829), agraciando-o, afinal, com a grande dignatária da Ordem da Rosa.
Exerceu mais o cargo de Deputado por Minas e S. Paulo, uma vez, e pelo Rio de Janeiro, quatro vezes, ocupando ainda o de Senador, uma vez por Alagoas e pelo Pará e duas pelo Rio de Janeiro.
No Império de D. Pedro 2º foi por este nomeado : Ministro da Guerra, por ato de 23 de Março de 1841, Senador em 31 de Dezembro de 1842, Conselheiro de Estado a 14 de Setembro de 1850 e 1º Presidente do Tribunal de Comercio em 4 deste ultimo mês e ano.
A cidade do Rio de Janeiro lhe deve : o encanamento das águas da Lagoinha e das Paineiras ; a construção dos chafarizes das Laranjeiras, do Cosme Velho e de S. Cristóvão ; diversos melhoramentos dos bairros do Cattete e de Maracanã e a condução da primeira sege ao Paraíba.
Como o Ministro, reformou a Repartição dos Correios; inaugurou, na Academia Nacional de Belas Artes, a primeira exposição anual de pintura, e, na pasta da Guerra, realizou reformas, que muito consolidaram a organização das forças de terra, seu efetivo e unidade. Ministro da Justiça, legou á legislação brasileira o Código Criminal de 1830 e Código Comercial de 1850. Fundou, igualmente, o atual Hospício Nacional de Alienados, tendo as respectivas obras começado em 1842, terminando no ano de 1852.
Eleito Provedor da Santa Casa de Misericórdia, a 2 de Julho de 1839 procedia á inauguração do Cemitério do Cajú, coisa que melhorou, extraordinariamente, o estado sanitário desta Capital, pois, antes, se inumavam os mortos no centro dela, perto do Hospital.
Clemente Pereira faleceu, repentinamente, em 10 de Março de 1854, vitima de uma congestão cerebral. Sua morte se deu ás 11 horas da noite, causando grande conforme o costume da época, a procissão do Senhor dos Passos. No Cemitério de S. Francisco Xavier, na avenida de seu nome, terceira rua á esquerda, quadra n.º 9, existe o belíssimo mausoléu, que a Irmandade da Santa Casa erigiu em honra á sua memória. Numa das faces do mausoléu há, em latim, o seguinte epitaphio de Frei Camilo de Monserrate:
" A José Clemente Pereira, varão ilustre entre seus concidadãos por seu piedoso zelo para com os infelizes, a Irmandade da Santa Casa de Misericórdia levantou no dia 2 de Novembro de 1858 a estatua da Piedade, símbolo de sua vida. Tendo conseguido erigir dois magníficos hospitais, faleceu no Rio de Janeiro no dia 10 de Março de 1854, na idade de 67 anos."
Texto original, extraído do Boletim Oficial do Grande Oriente do Brasil - 1922