Pod. Ir.’. D. PEDRO 1º "Guatimosim", Grão-Mestre da Ordem no período de 5 de agosto a 25 de outubro de 1822.
Escritores há, como Varnhagen, que consideram D. Pedro 1º o fundador do Império do Brasil, naturalmente devido ao seu heróico feito no Ypiranga. O Padre Diogo Feijó também foi da mesma opinião, que aquele reproduz à página 101 de sua "História da Independência".
Não vamos contestar esse juízo, baseado em diversos atos e ocorrências da época, quais teve parte D. Pedro 1º. Nem iremos ao ponto de negar seu amor ao Brasil. Ele muito se afeiçoará a este país e depois de sua viagem a Minas se declarava cidadão brasileiro, orgulhando-se disto.
Cabe-nos somente, num humilde parêntese, ponderar que todas as resoluções de D. Pedro 1º, desde o "Fico" à "Aclamação", eram previamente sugeridas ao seu espírito por uma plêiade de inteligências cultivadas e clarividentes, ao serviço de ardentes patriotas.
Isso, aliás, não depõe contra seu sentimento por nossa pátria, de que falamos acima. Achamos até de justiça, a fim de demonstrar, transcrever aqui um trecho da carta que remeteu a seu pai em 15 de julho de 1824:
"Vossa majestade está enganado pelos seus ministros e conselheiros, que dizem conquiste o Brasil...
os Brasileiros e eu, seu imperador, não mudamos de tenção, e antes morreremos com a espada na mão, uma vez que juramos Independência ou Morte!".
E como nota curiosa diremos que D. Pedro 1º tinha por José Bonifácio a amizade de irmão. Em compensação, este o estimava como a um filho!
Sua fé de ofício maçônica é pequena. Tendo sido tão rápida, quanto elétrica, a passagem de D. Pedro 1º pela Maçonaria, pouco há referir a respeito.
Proposto em 2 de agosto de 1822, sua iniciação teve lugar no mesmo dia. Submetido a todas as provas do Ritual, adaptou o pseudônimo de Guatimosim, com o qual escreveu a música do hino maçônico, ainda em vigor. Aclamado, a 5 de agosto, Grão-Mestre da Ordem, em 4 de outubro tomou posse de seu cargo, que exerceu até ao dia 25, quando houve a interrupção, dos trabalhos do Gr.·. Or.·. do Brasil, pelos motivos que os II.·. conhecem.
Na "Galeria de Homens Célebres" encontramos sua biografia profana, que é a seguinte:
" D. Pedro de Alcântara Bourbon, primeiro imperador do Brasil, nasceu em Lisboa a 12 de outubro de 1798".
Apenas com 10 anos de idade, veio para o Brasil em companhia de seu pai, o príncipe regente D. João, que não podendo resistir em Portugal à coluna francesa comandada por Junot, emigrou para a sua colônia na América.
Conquanto herdeiro presuntivo da coroa, porque com a enfermidade da rainha D. Maria I era seu pai quem reinava, o príncipe D. Pedro não teve uma educação condigna à elevada missão que o aguardava.
Em 1818 casou-se com a duquesa d’Áustria, D. Maria Leopoldina, de cujo consórcio nasceu D. Pedro II, que foi o seu sucessor no trono do Brasil.
A revolução de Portugal de 1820, veio quebrar a monotonia da vida colonial no Brasil, cujas províncias aderiram ao regime constitucional, enquanto que o rei, pouco disposto a voltar para metrópole, publicava o decreto de 18 de fevereiro de 1821, em virtude do qual era o príncipe D. Pedro mandado para Lisboa; mas em razão dos graves acontecimentos que sobreviveram, foi o próprio D. João VI com a sua família quem, pesaroso, abandonou o seu doce remanso, ai deixando por logar-tenente o príncipe D. Pedro.
A princípio, pouco inclinado à causa da independência, tornou-se posteriormente o chefe da revolução e o fundador do império do Brasil, em razão da desastrosa política que exerceram as cortes portuguesas. Após sucessivos decretos, nos quais revelavam a insistente preocupação em amesquinhar a florescente colônia, surgiram as determinações de conformidade com as quais deveriam ser abolidos os tribunais mais importantes do reino do Brasil, e também pela quais o príncipe regente recebia ordens de seguir para a Europa, afim de ai aprimorar a sua educação.
Foi este ultimo decreto a preponderante, senão a principal, causa da proclamação da independência do Brasil.
Chegando ao conhecimento dos mais exaltados patriotas que o príncipe se preparava para dar cumprimento as ordens recebidas, começaram a conspirar em sociedade secretas, promovendo representações populares com o fim de solicitar-lhe que permanecesse no Brasil.
Esses esforços foram coroados do mais feliz resultado e a data de 9 de Janeiro de 1822 soleniza o alvorecer de mais uma nação livre na carta do universo.
Delirantemente secundado pelos brasileiros, pode o genuíno representante da aspiração nacional vencer os vãos esforços do elemento português que tentou sufocar o brado patriótico de – independência ou morte, - soltado em S. Paulo.
A 12 de Outubro foi D. Pedro solenemente proclamado no Rio de Janeiro Imperador Constitucional e Defensor Perpetuo do Brasil, efetuando-se a 1 de Dezembro a cerimônia da sua coroação.
Em 1825 reconhecia D. João VI a independência desse adolescente império.
Durante a curta administração do jovem monarca, grandemente perturbada com as continuas dissensões de partidos, onde predominava o ressentimento entre português e brasileiros, e até com lutas contra países vizinhos, jamais conseguiu ele sufocar a impetuosidade do seu gênio e precaver-se dos conselhos de desleais e apaixonados cortesãos, circunstancias que muito concorreram para exacerbar o espírito de dedicados patriotas, com medidas extremas, que comprometeram-no.
Falecendo D. João VI em 1826, a coroa de Portugal tocava a D Pedro, que abdicou-a na sua filha D. Maria da Gloria ; esta deliberação não logrou resultados satisfatórios, porque a revolução de Portugal colocou no trono o príncipe D. Miguel, como rei absoluto.
A 17 de Outubro de 1829 foi celebrada no Rio de Janeiro a cerimônia das bênçãos núpcias do imperador com a sua Segunda esposa D. Amélia de Leuchteanberg.
Acusado pelo partido liberal de aspirar ao pode absoluto, e continuamente comprometido pelos seus ministros, sentiu D. Pedro 1º dia a dia perder a sua popularidade, seriamente ameaçada com a bandeira da federação das províncias, alçada pelos ânimos com efervescentes.
Só muito tarde foi que se esforçou por conquistar a adesão e amizade dos descontentes, e a sua viagem a Minas Gerais, empreendida nesse sentido, seguida das lutuosas noites das garrafas, deixou a mais triste impressão no animo do monarca. Desde então acentuaram-se cada vez mais os projetos de conspiração, que eram alimentados com as suas desacertadas resoluções, até que grave ocorrências coagiram-no abdicar a coroa em filho menor, e no dia 13 de Abril de 1831 deixava para sempre o Brasil.
Por essa época fazia Portugal sob o jugo cruel e sanguinário do usurpador D. Miguel.
Com o simples titulo de duque de Bragança e á testa do movimento liberal, passou-se D. Pedro do Açores para o continente, e sempre de vitória em vitória conseguiu, após as batalhas de Almastir e da Assieira, firmar o trono de sua filha Dona Maria II com o governo monárquico constitucional; e a 24 de Setembro de 1834 faleceu em Lisboa, legando a sua memória gloriosa as paginas da historia de dois mundos."
Texto extraído do Boletim Oficial do Grande Oriente do Brasil – 1822 –