Castro Alves



Deus! O Deus! 

onde estás que não respondes? Em que mundo, em que estrela tu t’escondes Embuçado nos céus? Há dois mil anos te mandei meu grito, que embalde desde então corre o infinito... Onde estás, senhor Deus? 

A evocação embalada numa forte carga de emoção é uma pequena estrofe do poema “Vozes D’África”, do genial poeta baiano Castro Alves, nascido em Muritiba (hoje Castro Alves), Bahia, em março de 1847. A sua breve passagem pela vida (morreu aos 24 anos com tuberculose pulmo­nar) foi marcada por uma das mais completas obras literárias do País. Ne­las, Castro Alves alternou o lírico inti­mista com as questões de natureza so­cial, revelando-se um dos maiores abolicionistas brasileiros, rendendo­ o título de “Poeta dos Escravos”. 

De temperamento inovador, questionador, estabeleceu novos va­lores para a época, renovando concei­tos e criando uma nova linguagem poética na literatura brasileira. Na luta particular que empreendeu pela liber­dade, pela justiça e pela fraternidade, introduziu no poema “O Navio Ne­greiro”, com mais de 240 versos, a sua dor pelo sofrimento dos escravos, de­nunciando aquilo que representava o aviltamento do ser humano - o trans­porte de escravos acorrentados em porões de navios. 

A verdadeira inclinação para a poesia. Castro Alves só manifestou claramente aos 13 anos, quando começou a recitá-las no colégio. De Salvador, onde foi educado, seguiu para o Recife, Pernambuco, em 1862, para fazer o Curso de Direito. Nesta época, já apresentava sinais evidentes da doença que o mataria alguns anos depois. Sempre participando de movi­mentos estudantis e literários, ele transferiu-se do Recife para o Rio de Janeiro e depois para São Paulo, onde marcaria presença nos acontecimentos 

sócio-político-culturais da época. 



Pressentindo a proximidade da morte, retornou a Salvador em 1870, ainda conseguindo ânimo para organi­zar e publicar o livro “Espumas Flutu­antes” que, segundo alguns críticos li­terários, contém a melhor parte de suas poesias líricas, como os poemas “Hebréia”, “Mocidade e Morte”, o “Laço de Fita”, “Boa Noite”, “Quando Morrer”, “É Tarde” e “As Aves de Ar­ribação”. “Espumas Flutuantes” foi publicado pouco antes de sua morte, em 1871.

Morreu o homem, mas a sua obra permanece imutável. A paixão que plasmou na sua obra transcende o tempo: 

‘Tudo me diz que o Eterno. 
na idade prometida 
Há de beijar na face 
a terra, arrependida! 
E desse beijo santo, 
desse ósculo sublime, 
Que lava a iniquidade, 
a escravidão e o crime, 
Hão de nascer virentes 
nos campos das idades, 
Amores, esperanças, 
glórias e liberdades! 
Então num santo êxtase, 
escuto a terra e os céus, 
o vácuo se povoa de 
tua sombra, ó Deus!” 

Castro Alves se iniciou Maçom numa loja da Bahia.