ABERTURA DO LIVRO DA LEI NO GRAU 1

Muitos são os Livros da Lei Sagrada adotados pela Maçonaria, dependendo da situação geográfica em que estiver a Loja. No Brasil, como em toda parte ocidental do Mundo, será a Bíblia. É evidente que poderá surgir uma Loja no Brasil, composta de membros hindus e que coloquem sobre o altar o "Bhagavad-Gita". Os israelitas, o Talmud; os muçulmanos, o Alcorão. Os Mórmons, a Fá Baha'i e outras doutrinas consideradas exóticas, tendo seu livro sagrado, justo e admissível será que os utilizem para abertura dos trabalhos maçônicos em lojas compostas por seus seguidores.

A Bíblia é fonte credenciada dos conhecimentos históricos e místicos da Maçonaria. Quem já está familiarizado com os Graus Maçônicos, ao vê-la, verificará de plano as relações da coletânea de documento da Escritura Sagrada com os rituais do Rito Escocês Antigo e Aceito.

A palavra Bíblia é de origem grega e significa Livro, ou melhor, Livros. Desde os primeiros tempos do cristianismo, esse vocábulo, junto com "Escrituras" e "Escrituras Sagradas” era usado para designar o conjunto de livros que contém a revelação divina. Aplica-se, pois, o nome de Bíblia ao volume que reúne a coleção desses livros e que representa o livro divino por excelência. Embora trate de diferentes argumentos e seja escrita por diversos autores, em línguas e estilos diferentes, a Bíblia tem, por força de inspiração divina, Deus como seu único autor e goza do princípio ao fim de uma mesma inabalável autoridade divina.

A abertura do Livro da Lei não é um ato singelo, mas uma repetição simbólica da construção do ser humano, o que equivale dizer, da construção do Templo humano.

Quando o orador abre o Livro da Lei, está abrindo o Universo e, ao ler em voz alta o Salmo, oferece seu sopro, iniciando com sua vibração, os mistérios ocultos da Maçonaria, espiritualizando os símbolos que o cercam, numa ação de criatividade. Todos devem acompanhar o cerimonial com atenção, porque participam dos resultados, desaparecendo o homem profano, para que, numa perfeita união, as palavras do Salmista possam penetrar no íntimo de cada um, transformando as dificuldades da vida em momentos de indivisível paz.

O homem necessita de momentos de recolhimento, onde possa encontrar misticismo, religiosidade, compreensão e amor fraterno, fugindo do cada vez mais cruel contato com seus semelhantes na competição do cotidiano.

Orar consiste em atitude profunda de ler e ouvir em sintonia com o Deus que fala. Importa ouvir Sua voz, temê-Lo e levá-Lo a sério.

Na abertura do Livro da Lei estamos solicitando Sua autorização e Sua glória para darmos início aos trabalhos, que só é possível com a presença da Luz, símbolo da revelação, reflexo às divindades, que iluminam nosso coração, nossa inteligência e nossa sabedoria para discernimento da verdade e para que cresçam em nós a bondade, a fé e a caridade. O ser humano anseia pelo conhecimento. A satisfação, do desejo de conhecer se inicia quando sentimos uma substância invisível, um fluído divino, um potencial de energia, a presença de Deus.

Para a maioria dos historiadores o livro dos Salmos é uma reunião de cânticos e louvores ao Senhor, que provavelmente foram escritos por Davi, Asafe e Salomão, para Moisés, Eta e aos filhos Corê, no décimo século antes de Cristo.

O termo Salmos, vem do grego Psalmos e significa poema cantado com acompanhamento de instrumentos musicais. Já no hebraico essa denominação significa o livro dos Louvores, com um total de 150, sendo 73 deles atribuídos a Davi.

É provável que não tenham sido imediatamente escritos pelos autores que os compuseram, mas entregues à tradição oral. Teriam sido, assim, cantados ou recitados por sucessivas gerações, alguns durante vários séculos, antes de serem escritos.

A abertura e a leitura do Livro Sagrado no Primeiro Grau Aprendiz, é feita na parte central do livro, justamente no Salmo 133, também denominado Salmo do Peregrino, quando ressalta a excelência do amor fraterno. E a peregrinação que o Maçom faz para refrigerar a sua alma; para alimentar o seu corpo espiritual; para fortalecer a sua vida e, acima de tudo, a representação da trilogia maçônica: Liberdade, Igualdade e Fraternidade. Para os hebreus temos os Salmos, enquanto para os seguidores das doutrinas orientais existem os Mantras, e para os esoteristas a Síntese. 

O Salmo 133:

Oh quão bom e suave é os irmãos viverem em união. É como o óleo precioso derramado sobre a cabeça, que desce para a barba, a barba de Aarão, e que desce a orla de suas vestes.

É como o orvalho do Hermon, que desce sobre o Monte Sião.

Porque ali o Senhor derrama a sua benção e a vida para sempre.

Não é suficiente apenas ouvir sua leitura; é preciso que as palavras sejam aceitas e compreendidas.

Procuremos analisá-las e desvendar o seu verdadeiro sentido, já que essas palavras inspiradas por Davi foram escritas no décimo século antes da era cristã.

Oh quão bom e suave é os irmãos viverem em união.

Ouvimos sua primeira estrofe com emoção. Este é um poema sobre simpatia comunal e gentileza fraternal. É usualmente assumido que a habitação conjunta aqui falada se refere à união do povo nas primeiras festividades.

Inicia o cântico com uma exclamação de regozijo, é a preparação para a disposição de serem-lhes aceitas as palavras. E extravasamento da ansiedade que cada um tem, para glorificar ao Senhor, é a prece que o Oficiante faz, ao ler com toda veneração a Palavra de Deus, que está sobre o Altar do Templo. Quem as ouve, toma parte dessa exclamação: ela é penetrante e soa aos ouvidos, como um despertar. As vibrações atingem os quatro cantos da Loja, envolvem todos os irmãos, que se sentem unidos porque participam do júbilo. Eis aqui a primeira lição daquele que deverá ser o Eterno Aprendiz. A união que o faz fraterno pela Iniciação. Toda subida como saída de nossos irmãos do cativeiro babilônico, parece, à primeira vista, dolorosa, porém a visão do alto Monte é o prêmio da Liberdade. Ciro liberta o povo eleito da Babilônia. Os irmãos em União caminham para Jerusalém. A união era muito desejável entre os colonos que haviam voltado para as cercanias de Jerusalém. Além disso, a unidade de um sangue e de uma tradição comuns, precisava ser reforçada e aumentada por meio de amizade e íntima proximidade. E esse sentimento de amizade tornava-os verdadeiros irmãos. Durante o sofrimento em cativeiro e depois, na alegria em liberdade. Essa união foi o que fortaleceu o espírito e a fé para a vitória.

O aprendiz suporta o cativeiro da Câmara de Reflexão, e começa suas viagens na direção da Jerusalém Celeste, guiado e exaltado pelos louvores da promessa suave e boa da União Interior. A dor do cativeiro não se compara com a alegria da libertação na excelência ao amor fraternal.

É como óleo precioso derramado sobre a cabeça, que desce para a barba, a barba de Aarão, que desce a orla de suas vestes.

Quem é ungido com o azeite, passa a portar suas virtudes alquímicas que, junto com o Mercúrio o fará compreender o Sol da Vida e o significado solar do enxofre divino.

O óleo era valioso produto da terra e seu uso era variado. Dizia-se que as palavras de um homem eram mais suaves que o óleo e o nome do amado era comparado ao óleo precioso. Inúmeras eram as suas utilidades: como condimento era uma parte importante na alimentação; fazia o rosto reluzir, era medicinal e empregado na unção de feridas; era usado como ungüento refrescante, especialmente após o banho. O emprego como ungüento era sinal de alegria e de elegância nas festas e era evitado durante o jejum e o luto. Era a base da mistura de perfumes como a mirra e o nardo e também utilizado como ungüento cerimonial.

As unções se davam somente em pessoas escolhidas por Deus para exercer as funções de rei, profeta ou sacerdote. Aarão foi escolhido por Deus para o ministério do sacerdócio e passou pela iniciação, recebendo um banho de óleo e sangue de cordeiro, derramado sobre sua cabeça, Sede da Mente.

Os hebreus tinham profunda admiração pela barba, atributo do varão que, com ela, mostrava toda a sua dignidade. Era importante não somente tê-la, mas cuidá-la, pois descuidar-se dela revelar-se-iam sinais de excentricidade, doença mental ou luto. Considerava-se gesto fortemente vergonhoso mandar raspar ou arrancá-la, sendo proibido cortar suas extremidades.

O óleo foi colocado em quantidade generosa sobre a consciência de Aarão, irmão de Moisés, da tribo de Levi e também iniciado nos antigos mistérios, atuando em eventos mágicos realizados na retirada do povo israelita da escravidão do Egito. Desceu sobre a sua dignidade e, ao deslizar por seus ombros, atingiu as duas pedras de ônix que traziam o nome das doze tribos de Israel, perseverando, assim a imagem de unidade, coisa rara e abençoada, em especial quando sua influência se espalha pela sociedade.

É como o orvalho de Hermon, que desce sobre o Monte Sião: Porque ali o Senhor derrama a sua benção e a vida para sempre !

O óleo retratado neste Salmo é comparado ao "Orvalho de Hermon". O monte Hermon tem o significado hebraico de consagrar. É a montanha onde termina a Cordilheira do Antilíbano, que é nua, quase desabitada, rochosa: é a pedra bruta, onde começa o trabalho do aprendiz. O Hermon eleva-se a uma altitude de 3.000 metros e tem três picos. Seu cume está permanentemente coberto de neve, sendo um dos mananciais do Rio Jordão, fronteira norte do reino Amorreu. Na tradição, o Monte Sião foi o limite norte das conquistas dos hebreus sob a direção de Moisés e Josué e o limite norte do território de Manassés, que por sua vez é o limite do aprendiz.

O Hermon por se manter coberto de neve o ano inteiro, desprende o orvalho que, constantemente, a noite, beneficia aS regiões áridas, onde a precipitação da chuva, sozinha, é geralmente insuficiente para a produção de boas colheitas. E os ventos que vem ao Mediterrâneo conduzem esse orvalho a longas distâncias para regiões áridas como Israel, Palestina, Líbano e adjacências, constituindo-se, assim, como uma benção.

O salmo compara o óleo que ungiu Aarão ao orvalho refrescante do Hermon que caía sobre o Monte Sião, atingindo todo Israel. A união dessas bênçãos, faz com que o povo se una em amor fraternal, para que a vida lhes seja boa e agradável. É evidente que esse exemplo, embora vindo das longínquas terras bíblicas, pode ser aproveitado por todos, e em especial pela Maçonaria, que tomou o Salmo 133 como ponto de partida para o reino da felicidade. Poderíamos afirmar: "Como é bom e agradável sermos Maçons!”.

É nesse clima, nessa situação de religiosidade, de consagração, aos pés do Monte Hermon, que o Senhor ordena a sua benção e a vida, não como ato isolado, mas para sempre, ou seja, para a Eternidade.

Com a vida vêm o vigor, a força e o êxito que trazem a paz da mente e a paz do mundo.



Trabalho elaborado por

EDUARDO MATEUS MACHADO, 33\